editorial da Folha de São Paulo
Não se deu sem sustos a aprovação do nome de Luiz Edson Fachin para a vaga de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal.
Com número recorde de votos em seu desfavor, o advogado sem dúvida
enfrentou resistências inspiradas por seu histórico de opiniões de
esquerda –as quais tratou de matizar na longa sabatina a que o submeteu a
Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
Na sessão de terça-feira (19), porém, as arestas ideológicas entre
congressistas e o candidato indicado pela presidente Dilma Rousseff (PT)
se resumiram a um único discurso –o do senador Magno Malta (PR-ES),
que, com doses equivalentes de oratória e folclore, caracterizou a
homossexualidade como anomalia e comparou as marchas da maconha a uma
eventual passeata em favor da pedofilia.
Foram mais discretas, e desprovidas de tão caricata simploriedade, as
reais gestões contra Fachin. Atribui-se ao presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), a responsabilidade pela articulação que, sem
alcançar o objetivo de uma rejeição final, amealhou ainda assim 27 votos
contra o indicado.
Poucos líderes políticos parecem encarnar com mais vivacidade a
hostilidade ao governo Dilma do que o senador alagoano, formalmente
pertencente a um partido que dá sustentação ao Executivo. O presidente
do Senado não tem sido capaz de disfarçar, sob o manto da autonomia
institucional, o interesse fisiológico de suas atitudes.
Deixou transparecer, por exemplo, seu descontentamento com relação ao preenchimento de cargos no segundo escalão do governo.
Mostrou-se contrariado, além disso, com a substituição de um afilhado
seu, Vinicius Lages, por Henrique Eduardo Alves (PMDB) no Ministério do
Turismo e sensível às dificuldades orçamentárias da administração de seu
filho à frente do governo de Alagoas.
Soma-se a isso um novo componente de estresse sobre Renan: as suspeitas
decorrentes da Operação Lava Jato, que investiga desvios bilionários na
Petrobras.
Sem aproximação com o Executivo e sem votos suficientes para impor ao
governo derrota acachapante na sucessão de Joaquim Barbosa, o núcleo das
animosidades do Senado contentou-se com um feito inédito: o de barrar a
indicação de um diplomata de carreira, Guilherme Patriota, ao posto de
representante do Brasil na OEA (Organização dos Estados Americanos).
Atingido por essa espécie de bala perdida político-parlamentar, o irmão
do ex-ministro das Relações Exteriores não tem por que se sentir
diminuído pelo que aconteceu –fruto, ao que tudo indica, de um movimento
de fisiologia que não lhe diz respeito.
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