Jornalista Andrade Junior

domingo, 24 de maio de 2015

"Interesses nomeados",

editorial da Folha de São Paulo

Não se deu sem sustos a aprovação do nome de Luiz Edson Fachin para a vaga de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal.
Com número recorde de votos em seu desfavor, o advogado sem dúvida enfrentou resistências inspiradas por seu histórico de opiniões de esquerda –as quais tratou de matizar na longa sabatina a que o submeteu a Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
Na sessão de terça-feira (19), porém, as arestas ideológicas entre congressistas e o candidato indicado pela presidente Dilma Rousseff (PT) se resumiram a um único discurso –o do senador Magno Malta (PR-ES), que, com doses equivalentes de oratória e folclore, caracterizou a homossexualidade como anomalia e comparou as marchas da maconha a uma eventual passeata em favor da pedofilia.
Foram mais discretas, e desprovidas de tão caricata simploriedade, as reais gestões contra Fachin. Atribui-se ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a responsabilidade pela articulação que, sem alcançar o objetivo de uma rejeição final, amealhou ainda assim 27 votos contra o indicado.
Poucos líderes políticos parecem encarnar com mais vivacidade a hostilidade ao governo Dilma do que o senador alagoano, formalmente pertencente a um partido que dá sustentação ao Executivo. O presidente do Senado não tem sido capaz de disfarçar, sob o manto da autonomia institucional, o interesse fisiológico de suas atitudes.
Deixou transparecer, por exemplo, seu descontentamento com relação ao preenchimento de cargos no segundo escalão do governo.
Mostrou-se contrariado, além disso, com a substituição de um afilhado seu, Vinicius Lages, por Henrique Eduardo Alves (PMDB) no Ministério do Turismo e sensível às dificuldades orçamentárias da administração de seu filho à frente do governo de Alagoas.
Soma-se a isso um novo componente de estresse sobre Renan: as suspeitas decorrentes da Operação Lava Jato, que investiga desvios bilionários na Petrobras.
Sem aproximação com o Executivo e sem votos suficientes para impor ao governo derrota acachapante na sucessão de Joaquim Barbosa, o núcleo das animosidades do Senado contentou-se com um feito inédito: o de barrar a indicação de um diplomata de carreira, Guilherme Patriota, ao posto de representante do Brasil na OEA (Organização dos Estados Americanos).
Atingido por essa espécie de bala perdida político-parlamentar, o irmão do ex-ministro das Relações Exteriores não tem por que se sentir diminuído pelo que aconteceu –fruto, ao que tudo indica, de um movimento de fisiologia que não lhe diz respeito.
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