editorial do Estadão
Depois de recusar viagens de trabalho, sob a justificativa de que o
valor das diárias é baixo, os advogados públicos federais com funções de
chefia estão entregando seus cargos e os demais membros da carreira se
comprometeram a não aceitar substituí-los. Integradas por procuradores
da Fazenda e do Banco Central e advogados da Advocacia-Geral da União
(AGU), a categoria tem cerca de 9 mil membros e exige a "valorização" da
profissão.
Entre outras reivindicações, os advogados federais querem a convocação
dos aprovados nos concursos de procurador federal e procurador do Banco
Central. Pedem a criação imediata de uma carreira de apoio, integrada
por servidores técnicos, para auxiliá-los. Reclamam do número excessivo
de processos. E ainda defendem a aprovação da Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) n.º 82/2007, que assegura autonomia administrativa
aos advogados públicos.
A principal reivindicação é salarial. Alegando que ganham menos do que
juízes federais e procuradores do Ministério Público Federal, os
advogados federais exigem equiparação salarial, em nome da "paridade
remuneratória das carreiras jurídicas". Segundo os sindicatos da
categoria, na AGU um advogado recebe R$ 17,3 mil no início da carreira e
R$ 22,5 mil no final. Já na Justiça Federal e no Ministério Público, o
valor médio dos vencimentos - com o auxílio-alimentação e outros
penduricalhos somados - supera R$ 30 mil. E, com o auxílio moradia de R$
4,3 mil e o "adicional de substituição", o valor chega a R$ 42,3 mil.
Os advogados também acusam o Ministério do Planejamento de ignorar suas
reivindicações e refutam o argumento de que, num período de corte de
gastos e ajuste fiscal, o governo não teria recursos para equiparar os
salários das carreiras jurídicas. "É uma falácia o argumento de que não
há recursos. Para cada real investido na Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional, retornamos R$ 20 à União. No ano passado, só em recuperação de
tributos federais foram mais de R$ 20 bilhões alcançados pelo órgão",
diz o presidente do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda,
Heráclio Camargo. "Fomos empurrados pela intransigência do governo a
esta mobilização mais contundente", afirma o diretor-geral da União dos
Advogados Públicos Federais do Brasil, Roberto Mota, depois de lembrar
que os protestos da categoria podem comprometer "a viabilização de
políticas públicas e a consultoria jurídica da União".
Em ofício enviado aos deputados federais, que têm de votar os cortes de
despesas para ajustar o Orçamento à queda de arrecadação, a Associação
Nacional dos Advogados da União afirma que os recentes projetos por eles
aprovados, conferindo à Defensoria Pública Federal autonomia
administrativa e salarial, desencadearam "um desequilíbrio remuneratório
entre atividades de mesma prevalência constitucional". A entidade
também alega que a falta de isonomia salarial entre as carreiras
jurídicas tem estimulado os advogados públicos federais a prestar
concurso para a Justiça e para o Ministério Público federais, "o que faz
com que a AGU vire uma instituição de passagem e perca sua memória
institucional".
Essa é mais uma demonstração de uma velha praga na administração pública
- a ciranda da isonomia. Não é de hoje que a busca de equiparações
salariais se tornou a principal bandeira das carreiras mais organizadas
do funcionalismo público, que parecem não compreender que os recursos
são finitos. As negociações por elas feitas com o Executivo não giram em
torno de ganhos de produtividade, mas de reivindicações irrealistas - e
quando uma delas é concedida a uma categoria, as demais imediatamente
exigem o mesmo tratamento. Não é por acaso que, como reconhece a
Associação Nacional dos Advogados Públicos da União, os delegados
federais também estão fazendo as mesmas reivindicações, além de defender
a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional 443/2009. Em seu
artigo 39, parágrafo 9.º, a PEC assegura a equiparação de todas as
carreiras jurídicas do Estado, tomando por base as categorias que pagam
os maiores salários.
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