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06:39
ANDRADEJRJOR
EDITORIAL O GLOBO
Enquanto Pequim tem
um projeto estratégico de buscar matérias primas onde for, o Brasil
precisa saber qual o seu, e evitar uma relação ‘colonial’ com o parceiro
O
pacote de acordos assinados terça-feira em Brasília entre a presidente
Dilma e o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, chega em providencial
momento, quando o país padece de grave falta de investimentos,
principalmente na infraestrutura. Estima-se que a China pode financiar
projetos no país num volume de até US$ 53,3 bilhões. O dinheiro será
importante contrapeso numa fase de inexorável ajuste fiscal — portanto,
de poucos recursos públicos disponíveis — e também de grande necessidade
de investimentos externos.
O ponto de interrogação em tudo isso é
saber se o dinheiro virá mesmo. Costuma-se dizer que a negociação com
os chineses começa depois que o contrato é assinado. São lembradas as
promessas feitas em 2011 de um investimento, em seis anos, de US$ 12
bilhões e geração de 100 mil empregos, com a vinda da Foxconn, empresa
chinesa fabricante de produtos Apple. Não passava de um conto chinês,
reproduzido pelo governo brasileiro.
Tudo parece ser um “negócio
da China”, por isso é preciso ser realista. Pequim já demonstrou saber
“comprar na baixa”. Socorre os sufocados venezuelanos, os endividados
argentinos e agora chega ao Brasil para “ajudar” a Petrobras, também sem
acesso ao mercado financeiro mundial, e apoiar o próprio país, ainda
soterrado sob os escombros da “nova matriz macroeconômica”.
Trata-se,
é certo, de uma oportunidade que não pode ser descartada. Mas se os
chineses têm um claro projeto estratégico, de dimensões globais —
garantir acesso a matérias primas, ao menor custo possível —, Brasília
precisa tirar o máximo que necessita e ter o seu plano também.
Devido
às necessidades crescentes de alimentos, matérias primas e energia, a
China é hoje grande financiadora de ferrovias, portos, projetos de
exploração de petróleo etc. em todo o planeta. Nesse aspecto, o Brasil
tem prioridade por já ser importante fornecedor de minério e soja aos
chineses. Tanto que a China ultrapassou os EUA como mercado importador
do Brasil. Justifica-se, então, por exemplo, a ferrovia de acesso ao
Pacífico, caminho mais curto para a Ásia.
Mas será um erro
histórico o Brasil se acomodar a uma aliança “colonial” com os chineses:
fornecedor de matérias primas e importador de bens manufaturados,
inclusive equipamentos para esses projetos. Por uma dessas ironias, mais
uma, terá sido um governo do “anti-imperialista” PT que consolidará
laços com os chineses de ranço mercantilista, típicos de séculos
passados, como aqueles com os quais metrópoles ataram o Brasil.
Será
decisivo, portanto, também modernizar a indústria, algo que o PT
“desenvolvimentista” impede, ao continuar com o sonho delirante da
“substituição de importações" ao estilo Geisel. Sem integrar a indústria
brasileira a cadeias globais de produção, o segundo governo Dilma terá
apenas dado um vigoroso passo para transformar Pequim no que Lisboa e
Londres já foram para o Brasil.
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