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06:38
ANDRADEJRJOR
MAÍLSON DA NÓBREGA REVISTA VEJA
Avanços institucionais
fundamentais para o futuro do país foram revertidos nos governos do PT
nos últimos anos. Velhas ideias ressuscitaram. Instituições fiscais
foram desmontadas. Promoveu-se uma guinada protecionista que tornou o
Brasil, na análise de Pascal Lamy, ex-diretor-geral da Organização
Mundial do Comércio (OMC), um dos únicos países em que o nível de
protecionismo cresceu nos últimos dez anos. "Nenhum outro país,
especialmente desse tamanho, retrocedeu tanto", disse Lamy.
Uma
explicação para o retrocesso é a dificuldade de desaprender. "Somos
extremamente lentos para desaprender, o que nos limita a capacidade de
mudar velhos conceitos", disse João Batista Araújo e Oliveira em livro
recente (Repensando a Educação Brasileira, 2015). O contexto é o da
vantagem do computador sobre o ser humano para lidar com informações e
processá-las rapidamente, mas a afirmação vale para caracterizar a
incapacidade de entender o envelhecimento de ideias válidas no passado.
O
PT deu marcha a ré em grande parte do trabalho de abertura da economia
que havia sido a resposta ao esgotamento da estratégia de
industrialização por substituição de importações. Tal estratégia deixa
de funcionar quando se prolonga além do tempo e sem avaliação de custos e
benefícios. Infelizmente, na época em que era necessária uma revisão, o
Brasil foi atingido pelas crises do petróleo de 1973 e 1979, período em
que os preços do produto mais do que decuplicaram.
A reação do
governo Geisel às crises foi dobrar a aposta na substituição de
importações, intensificando a produção interna de bens de capital e de
insumos básicos (produtos siderúrgicos, químicos e petroquímicos, e
álcool para fins carburantes). As barreiras à importação foram ampliadas
e se exacerbou a regra de conteúdo local. No início dos anos 1980, os
sinais de ineficiência e alta inflação se espalhavam. Caíram a
produtividade e o potencial de crescimento do país.
Essa política
visava a reduzir a dependência externa, mas acabou gerando déficits
crescentes no balanço de pagamentos em conta-corrente. Por certo tempo, a
estratégia sustentou-se mediante ampliação do endividamento externo.
Contudo, a moratória mexicana de 1982 secou o crédito para a América
Latina e escancarou os seus problemas. Estudos realizados enquanto se
buscava enfrentar a crise identificaram a necessidade de abrir a
economia para submeter a indústria brasileira à competição internacional
e assim aumentar a eficiência e a produtividade.
A abertura
começou em 1988/1989, com duas rodadas de redução da proteção aduaneira,
corte de 85% da lista de bens com importação suspensa e revisão de
incentivos fiscais. O processo se acelerou em 1990 e atingiu seu máximo
depois do Plano Real. A privatização, a concessão de serviços públicos e
o saneamento do sistema financeiro público foram parte da nova
estratégia. A indústria se modernizou e o potencial de crescimento
voltou a crescer.
"O PT cedeu a pressões para restabelecer o
protecionismo. Poderia ter mantido a estratégia de abertura, como o fez
em relação ao tripé macroeconômico - que somente seria abandonado por
Dilma. Preferiu o retrocesso"
O PT, crítico da abertura, cedeu a
pressões para restabelecer o protecionismo logo que chegou ao poder. Bem
que poderia ter mantido a estratégia, como o fez em relação ao tripé
macroeconômico - que somente seria abandonado por Dilma -, mas preferiu o
retrocesso.
Barreiras à importação foram restabelecidas. Emendas
à Lei de Licitações criaram margem de preferência de 25% para empresas
nacionais. A regra de conteúdo local mínimo - já discutível na era
Geisel - foi restabelecida e ampliada. Nas obras de mobilidade urbana
chega a 80% em material rodante e a 100% em serviços de engenharia. No
pré-sal, vai de 37% a 85% dos equipamentos e serviços.
Voltou a
prática de escolha de campeões nacionais pelo BNDES. A indústria naval
renasceu, mas a Petrobras paga muito mais por navios e sondas. A empresa
foi usada como instrumento de política industrial, o que prejudicou sua
eficiência. A recaída protecionista contribuiu para a estagnação da
economia.
Dificilmente a situação se reverterá até 2018, pois
Dilma "tem certeza" da validade das velhas ideias que abraçou. A virada
na política econômica não chegará à política industrial. Em próximo
governo, o crescimento mais forte dependerá da restauração da relevância
da abertura da economia.
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