por Hélio Schwartsman FOLHA DE SÃO PAULO
Quem depende mais do outro? Dilma Rousseff ou Joaquim Levy? Para
resolver esse enigma, a primeira providência é estabelecer a métrica da
resposta.
E, numa espécie hipersocial como é a humana, reputação é a chave para
quase tudo. A própria riqueza tem valor apenas instrumental, como um
meio de fazer propaganda de si mesmo: se consigo acumular muito
dinheiro, é porque sou melhor que os outros (autores com mais pegada
biológica diriam que a reputação não passa de uma ferramenta para
conseguir melhores parceiros sexuais, mas não precisamos ir tão longe).
Em termos de prestígio pessoal, Levy tem menos a perder do que Dilma. Se
eles se desentenderem e o ministro deixar o cargo, seu conceito, em
especial nos meios financeiros e acadêmicos em que ele circula, sofreria
pouco dano. Ele não teria dificuldade de convencer a todos de que seu
projeto não deu certo por uma razão precisa: a teimosia da presidente.
Já Dilma enfrentaria uma situação mais delicada. Com ou sem motivos
objetivos, o mercado teria um chilique com a saída de Levy, o que
tornaria o ajuste muito mais custoso. Se a mandatária tem a esperança de
chegar a 2018 com chance de influir positivamente na eleição de seu
sucessor, isso fica bem mais difícil num cenário de maior turbulência
financeira. O mais provável, neste caso, é que Dilma cimentaria a imagem
de presidente que quebrou o país --estampa que poucos políticos querem
ver ornando suas biografias.
O interessante aqui é que o desfecho dessa crise não diz respeito apenas
a Dilma. Se a situação se agravar muito, os estilhaços tendem a atingir
também o PT e o ex-presidente Lula, que parecia já ter consolidado sua
posição na história do país. Se isso vier a ocorrer, estará provado que,
no Brasil, até o passado é incerto. Ficará também demonstrada a
sabedoria de Sólon, que disse que não podíamos afirmar que uma pessoa
foi feliz até que ela tenha morrido.
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