Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 25 de maio de 2015

"O Haiti é aqui",

por Marta Suplicy Folha de São Paulo


A imagem do haitiano que se lava em mictório de uma igreja no Glicério, em São Paulo, num abrigo superlotado (capa da Folha nessa quarta, 20), é um choque por sua insustentável e desumana condição, mas também por escancarar sem retoques a já tão sabida ineficiência e dificuldades do atual governo no trato da política externa.
Lula e FHC tinham gosto e interesse, visões com as quais se poderia concordar ou discordar, mas inegavelmente em matéria de política externa tinham ousadias, propostas, propósitos. O Brasil retroagiu. Inconteste que perdeu a projeção geopolítica que galgava.
O Brasil timoneiro de um novo tempo político e econômico era vitrine no mundo, quando em 2010 um terremoto de assombrosas proporções assolou o Haiti. Aqui, perplexos choramos a morte de Zilda Arns. Solidários, pois já atuávamos em missões com a ONU para pacificar protestos violentos, disputas entre gangues e incertezas políticas do Haiti –queríamos, também, e ainda queremos um assento no Conselho de Segurança da ONU.
Sem visto de entrada, haitianos ingressaram no nosso país, pagando US$ 2.000 a US$ 3.000 a coiotes. Buscando emprego, casa e comida. Passamos a conceder vistos e já entraram pelo Acre mais de 32 mil "refugiados ambientais" do Haiti.
Claro que, numa proporção gigantesca como essa, o Estado do Acre não tem como suportar nem São Paulo, a cidade mais rica do país, e nenhum ente federativo isoladamente.
Ridículo reduzir a questão ao Ministério da Justiça destinar R$ 1 milhão para o Acre viabilizar, neste ano, a distribuição de haitianos pelo país!
Pior é que mandam as pessoas e nem avisam o prefeito, uma total falta de planejamento do mínimo detalhe à macropolítica!
Só com alimentação, já foram gastos mais de R$ 20 milhões e muito mais se gastará, sem solucionar suas desgraças. Não se trata de negar comida, abrigo, solidariedade, mas de propostas efetivas.
O Senado pode dar sua contribuição, pois tramitam desde 2013 proposta do senador Aloysio Nunes e outras que atualizam o Estatuto do Estrangeiro. Mas não serão suficientes.
É preciso bem mais para enfrentar o problema. A União não pode diante da sua incapacidade de assumir posições, repassar a Estados e municípios suas obrigações.
Esta trágica situação ultrapassa a responsabilidade dos entes federativos que não merecem nem têm condições de enfrentar sozinhos o problema. Urge que o governo federal, por meio do Itamaraty e Ministério da Justiça, ao lado da ONU e da OEA, encaminhe uma solução, pois o exemplo da imigração na Europa mostra que procrastinação não traz resultado.
extraídadoblogrota2014blogspot

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