por José Roberto de Toledo o ESTADO DE SÃO PAULO
Há muito tempo o brasileiro não andava tão sem perspectiva. Não é força
de expressão. Pesquisa inédita do Ibope mostra que faz 22 anos que o
otimismo não ficava tão por baixo quanto hoje: 48% se dizem pessimistas
ou muito pessimistas em relação ao futuro do País, enquanto só 21% se
declaram otimistas ou muito otimistas. O resto não está lá nem cá, ou
não sabe responder.
O baixo astral não escolhe gênero, cor nem religião. Como uma epidemia,
contaminou todos os segmentos sociais e alcançou a parcela majoritária
entre homens e mulheres, entre brancos e negros, entre ricos, pobres e
remediados, entre jovens e velhos. Só muda de intensidade. Os muito
pessimistas chegam a 16% no Sudeste e 17% nas periferias das metrópoles
(são 12% na média).
A atual falta de perspectiva é histórica. A última vez que o brasileiro
ficou tão pessimista foi antes do Plano Real, na ressaca do governo
Fernando Collor, quando a economia ia de mal a pior e não havia sinal de
que ela voltaria a melhorar: 22% de otimistas contra 48% de
pessimistas, em setembro de 1993. No governo FHC, o pessimismo bateu em
42% em junho de 2000. No governo Lula, não chegou nem perto disso.
A perda do otimismo é um fenômeno recente. No ano da primeira eleição de
Dilma, em março de 2010, 73% se diziam otimistas com o futuro. Quatro
anos depois, no ano da reeleição da presidente, a fatia dos que olhavam
para frente com esperança já tinha diminuído, mas ainda era grande: 49%.
Desde então, os otimistas foram reduzidos a menos da metade. Por quê?
Outra pesquisa do Ibope, que mede a confiança do consumidor, dá algumas
respostas. No último ano e meio as expectativas se deterioram muito e
rapidamente. A desconfiança em relação à economia cresce a cada mês,
engrossando o contingente dos que acham que a inflação e o desemprego
vão aumentar mais - e, por tabela, que sua situação financeira pessoal
vai piorar.
A falta de perspectiva coloca uma lente de aumento sobre problemas
reais, fazendo-os parecer ainda maiores do que são. Embora a inflação
oficial esteja em cerca de 8% ao ano, para 37% da população ela parece
maior do que isso, segundo o Ibope. A percepção é pior para os mais
pobres - entre eles, 27% acham que o aumento continuado de preços supera
os 12% a cada ano.
O mesmo fenômeno se repete com o desemprego: a percepção é maior do que o
número oficial. Embora a taxa nacional de desocupação, segundo o IBGE,
esteja em 7,9%, quase metade dos brasileiros (47%) acha que ela é maior
do que 9%. E um em cada quatro acredita que o desemprego seja maior do
que 12%.
O pessimismo que torna a população ainda mais sensível aos problemas
também muda sua percepção sobre a história. Segundo o Ibope, a maior
parte dos brasileiros (43%) acha que a inflação atual é maior do que era
no governo FHC, contra apenas 23% que pensam o contrário. Embora tenha
sido bem mais baixo durante o primeiro mandato do tucano, o IPCA chegou a
12,5% ao fim de 2002, último de FHC na Presidência. Hoje a taxa é de
8,2%.
Segundo a pesquisa, parte dessa conta é da imprensa: 41% acham que ela
mostra uma situação econômica mais negativa do que os entrevistados
percebem no seu dia a dia. Mas não adianta o governo culpar o
mensageiro. Para injetar otimismo, só criando uma perspectiva real de
melhora da economia. Contra a crise de pessimismo de 1993, Itamar e FHC
lançaram o Plano Real. Dilma e Joaquim Levy estão tentando com o ajuste
fiscal. Goste-se ou não, é sua chance de ganharem a batalha das
expectativas.
Puxadinho eleitoral. Escrevo
antes da votação de todos os itens da reforma política. A eventual
cassação do direito do eleitor de votar a cada dois anos seria ainda
pior do que o "distritão". Se e quando for possível festejar, será
porque o Congresso não piorou um sistema que, de tão ineficiente, é
incapaz de aperfeiçoar-se a si mesmo.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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