Bernardo Mello Franco FOLHA DE SÃO PAULO
Em um Congresso praticamente vazio, que manteve a tradição de se
antecipar aos feriados, o senador Renan Calheiros surpreendeu nesta
quinta ao incluir o vice-presidente Michel Temer na mira de sua
metralhadora giratória.
Renan bateu duro no novo coordenador político do governo, responsável
pela partilha da máquina entre aliados. O senador acusou Temer de atuar
como "articulação de RH, para distribuir cargos e boquinhas". "O pior
papel que o PMDB pode fazer é substituir o PT naquilo que ele tem de
pior, que é o aparelhamento do Estado", disparou.
Toda crítica ao fisiologismo é bem-vinda em um país cujo governo mantém
38 ministérios e mais de 22 mil cargos comissionados para saciar o
apetite de políticos. O curioso é ouvir esse discurso da boca de Renan,
reconhecido como um exímio praticante do toma lá, dá cá.
O alagoano sempre esteve próximo do Planalto. Foi líder de Collor,
ministro da Justiça de FHC e presidente do Senado nas gestões Lula e
Dilma. Atuou como fiel escudeiro dos petistas, que retribuíram a
fidelidade com favores e nomeações.
O fim da lua de mel coincidiu com a demissão de seu afilhado Vinicius
Lages do Ministério do Turismo, há duas semanas. Ele perdeu o cargo para
dar lugar a outro peemedebista, Henrique Eduardo Alves, próximo ao
deputado Eduardo Cunha.
Inconformado com a troca, Renan recusou ofertas no segundo escalão e
empregou Lages no Senado. Foi como assessor parlamentar que o
ex-ministro ouviu nesta quinta, discretamente, o novo discurso do chefe.
Até outro dia, a oposição acusava Dilma de abusar dos pronunciamentos em
cadeia nacional. Neste 1º de Maio, devia mudar de tática e
constrangê-la a mostrar a cara na TV.
Nessa, Renan tem razão: a presidente só cancelou o pronunciamento porque teme outro panelaço e não tem nada a dizer aos trabalhadores.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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