por Mary Zaindan COM O BLOG DO NOBLAT O GLOBO
Na política do avesso todos perdem. O país não tem tempo para o oportunismo dos contorcionistas. Nem paciência
O desgoverno da presidente Dilma Rousseff, ápice dos 12 anos de domínio
petista sobre a máquina pública, tem agido como fertilizante na produção
de absurdos políticos. Tudo está ao avesso. Dentro da lama e de costas
para o país.
Diante de uma impopularidade jamais experimentada, o PT aprofunda-se na
esquizofrenia. Apoia e combate o seu próprio governo. Precisa agradar as
bases sindicais que são contra o pacote fiscal de Dilma e, ao mesmo
tempo, manter-se no poder. Até para garantir os cargos públicos dos
companheiros, incluindo os sindicalistas. Depende eleitoralmente do
sucesso da presidente, mas quer porque quer manter distância dela.
Síndrome psíquica semelhante acomete o PSDB, que, para aumentar o
sangramento da mandatária petista, nega voto a teses que defendia até
ontem.
Fez assim na votação do ajuste fiscal - princípio pelo qual o partido
sempre zelou - e do fator previdenciário, criado por FHC em 1999. Os
tucanos se protegem com argumentos toscos: dizem que se tivessem vencido
com Aécio Neves fariam um ajuste fiscal duro, mas sem aumentar
impostos. Reduziriam gastos, cortariam ministérios e cargos de
confiança.
Tudo urgente e necessário, mas sabidamente insuficiente para cobrir o gigantesco rombo das contas públicas.
Enquanto PT e PSDB embaralham-se em um espesso cipoal, confundindo seus
eleitores, o PMDB de Eduardo Cunha e Renan Calheiros empunha alfanjes
como se fosse o único partido capaz de colocar ordem na lavoura. Ao
débil governo Dilma, só oferecem vitórias seguidas por doídas e danosas
derrotas.
À presidente sobra pouquíssimo espaço. Sem mando na economia, que ela
desorganizou por completo, e distante da política por inapetência e
inexperiência, Dilma é hoje o inverso da imagem de gerente exemplar,
inigualável, durona. Encobre a incompetência com a nova silhueta e faz
da dieta de sucesso assunto principal em todas as rodas.
Tendo errado feio na previsão quanto ao desempenho de sua pupila, Lula
tem de se superar na prática ilusionista, da qual é mestre. Sem
constrangimento algum, ele se opõe a Dilma e defende o governo dela. Em
um só fôlego, livra o PT e se arvora a combatente da corrupção. Como se o
mensalão e a roubalheira confessa de R$ 6 bilhões da Petrobras não
tivessem sido patrocinados pelo seu partido, por gente que ele próprio
nomeou.
Na política do avesso todos perdem. O país não tem tempo para o oportunismo dos contorcionistas. Nem paciência.
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