ROSÂNGELA BITTAR VALOR ECONÔMICO
A meta, a ser alcançada
com a mobilização de todos os instrumentos à mão, é aquilo que,
tecnicamente, se define como "atitude positiva em relação a Dilma". A
avaliação da presidente sofreu queda vertiginosa e, se ficar tudo como
está, o governo agravará a situação de tal forma que impedirá até a
expectativa de solução.
O senso comum tem atribuído o revés
sofrido pela presidente, traduzido em pesquisa em que 47% dos
entrevistados a consideram desonesta, 54% a definem como falsa, e 50% a
chamam de indecisa, como uma frustração da propaganda e das promessas da
campanha eleitoral. O marketing mais visível da campanha de Dilma,
especialmente no segundo turno, foi centralizado no ataque e destruição
do adversário. E as promessas foram poucas, Dilma sequer teve plano de
governo a apresentar, uma omissão proposital, para não abrir flancos.
Portanto, via-se fragilidade e desproporção entre as razões supostas e os índices vertiginosos ladeira abaixo.
O
cientista político, sociólogo e especialista em marketing eleitoral
Antonio Lavareda, explica, discordando do diagnóstico, por que a
presidente Dilma Rousseff enfrenta zona de tamanha turbulência. A
solução mais imediata, a seu ver, é a comunicação, a propaganda mesmo.
"O marketing é um instrumento importante para alavancar a avaliação dos
governantes", assinala, contra a opinião dos que veem no instrumento a
representação da mentira.
Para Lavareda, se Dilma, durante esse
mês, estivesse recorrendo ao marketing para explicar à população, de
alguma forma, algumas medidas mais duras que tomou, ou divulgando à
população alguma coisa positiva que eventualmente tenha feito, iria ter
um equilíbrio maior para compensar o volume de noticiário negativo da
mídia - jornal, rádio, televisão, internet.
A propaganda compensaria de alguma forma isso. "Não se pode dizer quanto, mas compensaria".
O
oposto, segundo o professor, é o cidadão ficar em casa vendo televisão,
ouvindo o rádio e ligando a internet e só receber notícia negativa do
governo.
"O problema é o volume brutal de noticiário negativo
sobre ela. Petrobras, em primeiro lugar, na categoria ética, judicial,
criminal. De outro lado, o noticiário sobre economia: o PIB caindo,
projeção do PIB caindo, inflação, é muita notícia negativa".
Lavareda
situa na categoria de lenda a avaliação de que o problema está na
decepção do eleitorado com as promessas não cumpridas.
"São fatos
negativos que geram notícias negativas: Petrobras, PIB, derrota na
eleição da Câmara, real com a maior desvalorização frente ao dólar, são
coisas substantivas, ninguém estás inventando nada". Se os fatos
substantivos e novos de 2015 fossem todos positivos, diz, e se Dilma não
tivesse cumprido as promessas de campanha, alguém iria reclamar? Até as
denúncias de corrupção não teriam peso, como em outras ocasiões. Lembra
o sociólogo que a população, de uma maneira geral, é pouco exigente do
ponto de vista ético.
Agora, do que fazer propaganda, se o país
vai mal e o governo parece não ter o que apresentar? "Não sei o que ela
está fazendo ou deixando de fazer. Se ela chamar o pessoal da
comunicação e disser: veja o que estamos fazendo, ainda que novidade não
seja, nossos programas de educação, de saúde, se começamos a fazer algo
na segurança pública, vamos lançar logo o pacote anticorrupção. No
território da mídia, viajar mais, produzir fatos, reuniões, anúncios,
explicações, encontros com empresários, sindicalistas. Mas só isso não
resolve. Se não recorrer à propaganda, ao marketing na sua dimensão
publicitária, e não houver ocorrência de fatos positivos, ela vai cair
mais e se complicar adiante". O cientista político completa o
raciocínio: "Se é que já não se complicou".
Pelo menos ao
eleitorado que votou nela dá um alimento para manter atitudes positivas
em relação a ela no maior percentual possível", afirma.
Dilma
estava presente na TV, de forma intensiva, durante todo o ano passado,
até 26 de outubro. Primeiro, ao acelerar inaugurações, viagens,
palanques do governo em todo o país, na prévia da campanha eleitoral, e
depois na campanha propriamente dita, em que tinha o maior tempo de
propaganda gratuita na televisão e no rádio possibilitado por sua vasta
aliança partidária.
Os fatos e notícias negativas existiam, tanto
na mídia quanto na oposição, essa principalmente no segundo turno,
quando também tinha mais volume e espaço. Nada, porém, capaz de
obscurecer a exposição da presidente.
Agora a oposição não tem
horário eleitoral, mas a mídia tem grande volume de notícias negativas
para reverberar, porque os fatos são negativos. E Dilma desapareceu. Do
ponto de vista técnico, "se ela tivesse com uma presença de comunicação,
com alguma intensidade, teria caído, porque os fatos de governo são
negativos, mas não tanto como caiu"
Uma situação destacada
por Lavareda diz respeito ao fato de que Dilma não está falando sequer
com o seu próprio eleitorado. Se a eleição fosse hoje, ela receberia
menos votos do que recebeu em 26 de outubro. "O eleitorado dela está
atônito. Ouve que a Petrobras era uma caverna de Ali Babá, que ela
mentiu, que a economia está caindo, e não ouve nada em contrário. O
sujeito que pediu voto em casa para ela não tem como dar explicações à
família."
A presidente não poderia
imaginar que, em um cenário negro como esse, iria expandir sua base de
apoio. Se tivesse conseguido manter a base de apoio explicitada na
eleição, sem comunicação, já seria uma proeza política. O esforço que
precisa fazer agora é para perder o mínimo possível até ter condições de
atuação política e de gestão do governo para começar a ganhar. Ela tem
que fazer um esforço para perder o mínimo possível.
Antonio Lavareda resume: "Marketing político não resolve a vida. Mas ajuda como o diabo".
Antonio Lavareda resume: "Marketing político não resolve a vida. Mas ajuda como o diabo".
FONTE AVARANDABLOGSPOT
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