Ricardo Della Colleta - O Estado de São Paulo
Maior preocupação da equipe de Dilma é com impacto nas contas do aumento nas faixas de cobrança do IR para pessoa física
Com a popularidade em baixa e diante da conflagração de sua base de
sustentação no Legislativo, a presidente Dilma Rousseff retorna nesta
quarta-feira, 18, da Base Naval de Aratu, na Bahia - onde passou o
feriado de carnaval -, em busca de uma estratégia para tentar reverter a
agenda negativa que ameaça ser agravada com novas derrotas políticas
nos próximos dias.
O primeiro embate do Palácio do Planalto deve ocorrer na próxima terça-feira, quando deputados e senadores se reúnem em sessão do Congresso. Na pauta, está prevista a análise de vetos presidenciais e a votação do Orçamento de 2015.
Dos vetos, o que de fato acende o alerta no governo é o que reajusta em
6,5% a tabela do Imposto de Renda para a pessoa física. O presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou na semana passada, após
reunião com sindicalistas, que esse veto seria apreciado nessa sessão.
O índice foi aprovado por deputados e referendado por senadores em
dezembro, menos de dois meses após Dilma conquistar a reeleição,
derrotando o candidato do PSDB, Aécio Neves, no 2.º turno da eleição
presidencial. A aprovação do reajuste da tabela do imposto foi um sinal
de descontentamento da base aliada com os rumos que a montagem da equipe
do segundo mandato tomava.
Preocupado com o impacto nas contas públicas que o índice vai acarretar
em um ano de ajuste fiscal, o Palácio do Planalto trabalha para evitar a
anulação do veto em troca de uma correção menor, de 4,5%. Mas mesmo os
aliados da petista são céticos em relação à possibilidade de sucesso.
Até lá, há duas estratégias em curso. A primeira é que o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva entre de fato em campo em Brasília para
liderar a rearticulação da base aliada. Na agenda, encontros com
integrantes do PT e do PMDB. Sua ida a Brasília estava prevista para
amanhã, mas ainda não estava confirmada.
Uma segunda estratégia é apostar no adiamento da sessão, contando, para
tanto, com o apoio da própria base. Isso porque o relator do Orçamento,
senador Romero Jucá (PMDB-RR), deu prazo até segunda-feira para que
novos parlamentares apresentassem suas emendas individuais. O prazo pode
inviabilizar no dia seguinte a votação da lei orçamentária, o que
demandaria o adiamento da sessão.
Em outra frente, a presidente precisa acelerar as negociações com o
Congresso para evitar o “afrouxamento” do pacote da equipe econômica que
endureceu o acesso a benefícios trabalhistas, como o seguro-desemprego e
o abono salarial.
Aliados, inclusive do PT, apresentaram centenas de emendas às duas
medidas provisórias que tratam do tema propondo alterações menos duras.
Também na terça, os líderes da base na Câmara se reúnem em almoço com os
ministros Nelson Barbosa (Planejamento), Pepe Vargas (Relações
Institucionais), Miguel Rossetto (Secretaria-Geral), Manoel Dias
(Trabalho) e Carlos Gabas (Previdência).
No encontro, eles argumentarão que a essência do pacote é corrigir
distorções e preservar benefícios sociais, mas internamente o governo já
admite ceder em alguns pontos, como o tempo de carência exigido para o
pagamento do seguro-desemprego.
Diálogo. Diante
da crise política que se instalou em Brasília, com a base “rachada” e o
PT isolado de postos estratégicos na Câmara, Dilma quer sinalizar mais
uma vez que está disposta ao diálogo. O líder do governo na Casa,
deputado José Guimarães (PT-CE), procurou as lideranças partidárias nos
últimos dias para comunicar que a presidente pretende realizar encontros
mensais com eles.
O aceno, no entanto, é visto com ressalvas no Congresso, já que a
petista prometeu estabelecer um calendário regular de encontros com os
parlamentares em ocasiões anteriores, mas abandonou a ideia.
FONTE ROTA2014
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