editorial de O Globo
Multiplicar por quase três o fundo partidário, de que dependem muitas legendas de aluguel, é apenas uma das más notícias para quem paga impostos
A dimensão do absurdo da multiplicação por quase três do fundo
partidário — de R$ 319,9 milhões para R$ 867,5 milhões — cometido na
aprovação, no Congresso, do Orçamento deste ano, num atentado contra o
contribuinte sancionado pela presidente Dilma, não está expressa apenas
nos números.
É fato que ampliar este fundo, fonte de sustento também de muitas
legendas de aluguel, em 171,7%, conforme emenda ao Orçamento apresentada
pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), contraria as regras mais simples do
bom senso, se levarmos em conta o ajuste fiscal.
O desatino aparece por inteiro com a reportagem do GLOBO de domingo
sobre a leniência com que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vigia o
gasto desse dinheiro, e o de origem privada, pelos partidos.
Nada muito diferente com o descaso com que quem paga impostos é tratado
neste país, haja vista os escândalos envolvendo desvios de bilhões do
Tesouro, por meio do assalto a estatais (Banco do Brasil/mensalão,
Petrobras etc.)
O ilustrativo agora é que a reportagem, publicada logo após a sanção do
Orçamento, aponta para o destino que terá mais esta dinheirama extraída
de forma irresponsável do Erário.
Nada indica que o passado não se repetirá. E ele é trágico: segundo o
levantamento feito pelo jornal nas prestações de contas dos dez maiores
partidos, desde 2004, 60% delas não haviam sido ainda julgadas pelo
tribunal; sendo que 13, com transgressões, não poderão produzir punições
porque o próprio TSE decidiu, no ano passado, declarar prescritas todas
as prestações não avaliadas em instância final nos últimos cinco anos.
Generosa anistia a político que malversa dinheiro alheio.
Acrescenta-se que a Justiça Eleitoral não tem estrutura nem arcabouço
legal para agir como órgão de controle. E como há, ainda, a cultura de
malbaratar o dinheiro público, fica configurada uma dramática conjugação
de fatores contra os interesses da sociedade.
As perspectivas são ainda piores porque a ideia do financiamento público
integral de campanha, sinalizada pelo inchaço descabido do fundo
partidário, está para ser reforçada num julgamento no Supremo, suspenso
por um pedido de vista do ministro Gilmar Mendes, à espera de uma ação
contrária do Congresso, para evitar o equívoco do fim das contribuições
das empresas a partidos e políticos. Caso ocorra, será a eternização do
caixa dois e outro alento ao projeto de estatização integral das
finanças da política.
Mais uma vez, confirma-se a imperiosidade de uma reforma política
pontual, para reduzir o número de legendas com representação no
Legislativo e com direito à propaganda dita gratuita. Uma cláusula de
desempenho razoável e o fim das coligações nos pleitos proporcionais
produzirão este efeito, com a consequente possibilidade de se reduzir o
fundo partidário, em nome da sensatez fiscal e do respeito ao bolso do
cidadão.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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