Carlos Chagas
Tripudiar ainda não é o termo, mas provocar, sem dúvida, é o que estão fazendo com a presidente Dilma os presidentes da Câmara e do Senado. Eduardo Cunha e Renan Calheiros não perdem a menor oportunidade, por palavras e atos, de criar dificuldades para Madame. Ainda agora, valendo-se da passagem do Dia do Trabalhador, assestaram suas baterias contra o palácio do Planalto.
Cunha anunciou, por inspiração do Paulinho da Força, a entrada na ordem do dia de projeto alterando o índice de correção do FGTS, da TR para a inflação, velha reivindicação das centrais sindicais. Aprovada, a proposta determinará um prejuízo de centenas de milhões aos cofres públicos e desorganizará o orçamento da União. Justo na hora em que o governo insiste no ajuste fiscal. O grave é que a iniciativa vem apoiada pelo PMDB em peso e mais o DEM.
Renan declarou-se aturdido pelo fato de a presidente da República haver cancelado seu pronunciamento por conta do Primeiro de Maio, “por nada ter que dizer ao trabalhador”. Autotransformado em defensor perpétuo dos que vivem de ínfimos salários, o senador nem atende os telefonemas de Dilma e não perde um dia sem criticá-la.
TÊM MOTIVOS
Claro que os dois chefes do Legislativo têm motivos para defender os humildes e minorar-lhes as agruras, mas dão a impressão de que pretendem mais agredir a presidente do que cuidar dos trabalhadores. Trata-se de um embate onde demonstram intransigência sem que tornem claro o verdadeiro motivo de sua beligerância.
Pode ser por julgarem influência do governo na inclusão de seus nomes na lista dos parlamentares que respondem a inquérito judicial junto ao Supremo Tribunal Federal como suspeitos de envolvimento no escândalo da Petrobras. Pode ser por patriotismo…
IMPEACHMENT
De qualquer forma, apesar de Dilma ter sido aconselhada pelo Lula a ter paciência e cautela, de nada valeram o jantar que ela ofereceu a Eduardo Cunha ou os telefonemas não atendidos a Renan Calheiros. Apesar de os dois presidentes se terem pronunciado contra o impeachment da presidente, há quem imagine empenharem-se muito pouco para conter o ânimo de alguns tucanos. Estariam, em surdina, estimulando a iniciativa?
Conhecendo-se, como se conhece, o temperamento de Dilma, aguarda-se para breve o dia em que devolverá os agravos. Como não poderia deixar de ser, ela conta com a solidariedade do vice-presidente Michel Temer, às voltas com o insolúvel problema de compor um número bem menor de nomeações possíveis para o segundo escalão do governo com a enxurrada de pretensões dos partidos da base oficial. Mas com certeza não será oferecendo a Cunha e a Renan cargos para seus protegidos. Ou seria essa a chave para o desarmamento?
Em suma, a conclusão é de que do jeito que vão, as coisas não poderão continuar sem um desfecho inusitado. A Praça dos Três Poderes não suportará esse bombardeio por muito tempo. Nem as instituições aguentarão por mais dois anos tamanha confusão.
extraídadoblogtribunadainternet
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