editorial da Folha de São Paulo
Criar partidos políticos no Brasil é de fato um grande negócio. As agremiações contam com a prodigalidade do Estado quando se trata de distribuir recursos públicos e com a complacência das instituições quando se trata de fiscalizar a destinação dessas verbas.
Muito já se disse a respeito do fundo partidário, que saltou de R$ 289,5
milhões no projeto original do governo para R$ 867,5 milhões na versão
do senador Romero Jucá (PMDB-RR), aprovada pelo Congresso e sancionada
pela presidente Dilma Rousseff (PT). Um avanço inexplicável em relação
aos cerca de R$ 320 milhões de 2014.
Como 5% desse montante é dividido entre todas as legendas (os demais 95%
são reservados aos 28 partidos representados no Congresso), cada uma
das 32 siglas reconhecidas no país receberá neste ano pelo menos R$ 1,36
milhão pelo simples fato de existir.
Diante de cifras tão generosas, seria natural haver monitoramento célere
e rigoroso do uso desse dinheiro. Dá-se o contrário, porém.
Segundo reportagem publicada pelo jornal "O Globo" no domingo (26), das
89 prestações de contas entregues desde 2004 pelos dez maiores partidos,
60% ainda não foram julgadas –e 13 delas, anteriores a 2009, não
poderão resultar em punições, pois tiveram seu arquivamento decretado
pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O PSDB, por exemplo, se beneficiou com a prescrição de quatro processos.
Em um dos casos interrompidos, cinco ministros haviam considerado que a
sigla falhou na identificação de doadores em 2004; se tivesse sido
condenada, precisaria devolver R$ 1,9 milhão.
Circunstância semelhante favoreceu o PT nas contas de 2008. Um parecer
técnico recomendava a restituição de 1,2 milhão por uso impróprio do
fundo partidário e R$ 1 milhão por problemas na identificação de
doadores.
Tudo leva a crer que as irregularidades verificadas entre tucanos e
petistas constituem antes regra do que exceção –as práticas indevidas
incluem uso do fundo partidário para quitação de multas e falta de
justificativa para gastos. Entre as dez maiores legendas, apenas o PP
teve a aprovação sem ressalvas de todas as contas analisadas.
Populares as agremiações políticas já não são; a malversação de
recursos, muitos dos quais oriundos do bolso do contribuinte, só fará
aumentar o fosso que hoje as separa da sociedade. Como têm mostrado as
pesquisas do Datafolha, em torno de 70% dos eleitores declaram não ter
partido de preferência, um recorde preocupante.
O TSE faria um bem à democracia se, de forma didática, ensinasse aos
dirigentes partidários que eventuais desvios não ficarão impunes.
extraídadoblogrota2014
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