José Casado O GLOBO
Avesso à fiscalização e alérgico à crítica, Gabrielli estabeleceu na Petrobras um novo paradigma administrativo: perdas diárias de R$ 17,4 milhões, em seis anos e sete meses
É recorde: R$ 17,4 milhões em perdas por dia, ou R$ 726,4 mil por hora, durante seis anos e sete meses seguidos.
Essa é a herança administrativa deixada por José Sérgio Gabrielli depois de 2.370 dias no comando da Petrobras.
Na semana passada, a companhia informou que seu patrimônio encolheu em
R$ 47,4 bilhões, por desvalorização de ativos e cancelamento de projetos
considerados inviáveis há pelo menos meia dúzia de anos.
Desse total, R$ 41,2 bilhões têm origem em iniciativas danosas ao
patrimônio da estatal anunciadas na gestão de Gabrielli (a conta não
inclui o custo do repasse da corrupção).
De cada real registrado como perda no balanço da empresa, 87 centavos
correspondem a prejuízos produzidos sob a presidência de Gabrielli.
Puro desastre gerencial. O buraco cavado nas finanças da Petrobras é
maior que a soma das vendas realizadas pelas redes de supermercados
Carrefour e Walmart em 2013.
Equivale à receita anual conjunta de três montadoras de veículos, a
General Motors, a Mercedes Benz e a Honda. E supera em 15% o exuberante
lucro somado do Bradesco e do Itaú no ano passado.
Ao aterrissar na diretoria financeira da Petrobras, na quinta-feira 22
de janeiro de 2003, Gabrielli tinha 53 anos e portava duas credenciais:
professor de Economia e militante do Partido dos Trabalhadores na Bahia.
Sua escolha ocorrera durante a montagem do governo Lula, quando atuou
no mapeamento de cargos disponíveis em empresas e bancos públicos.
A companhia havia sido entregue ao ex-senador José Eduardo Dutra,
geólogo, antigo dirigente da CUT que acabara de ser derrotado na disputa
pelo governo de Sergipe. Dutra marcara data para sair, porque sonhava
com o Senado na eleição seguinte (ele perdeu em 2006, de novo). No páreo
da sucessão despontou Ildo Sauer, diretor de Gás e Energia, logo
defenestrado pela ministra e presidente do conselho Dilma Rousseff. Em
julho de 2005, Lula nomeou Gabrielli.
A Petrobras começara a concentrar gastos em plataformas, navios e sondas
de perfuração, em contratos controlados por diretores indicados pelo PT
e pelo PMDB. O novo presidente multiplicou dívidas com projetos em
série, como as refinarias de Pernambuco, Ceará, Maranhão e o Complexo
Petroquímico do Rio de Janeiro.
Com um estilo personalista (referia-se à empresa usando o pronome “eu”),
Gabrielli alinhou a publicidade da estatal à propaganda do partido,
exibindo-se na televisão com a estrela-símbolo do partido na lapela do
paletó.
Alérgico à crítica, reagia com agressividade aos jornalistas que iam à
Petrobras em busca de explicações sobre a partilha da estatal entre
aliados do governo: “Você não é bem-vindo aqui.” Avesso à fiscalização,
fez do sigilo uma rotina. Gracejou do Tribunal de Contas que lhe pediu
as memórias dos custos de duas plataformas, enviando ao TCU uma montanha
de papel — planilhas Excel impressas.
Metade da sua diretoria está no alvo de investigações por corrupção e
lavagem de dinheiro no Brasil, nos EUA, na Holanda e na Suíça. Na semana
passada, virou recordista em prejuízos na administração pública: sob o
seu comando, as perdas patrimoniais cresceram à média de R$ 12,1 mil por
minuto durante seis anos e sete meses. Estabeleceu um novo paradigma em
gestão temerária.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
0 comments:
Postar um comentário