editorial do Estadão
Atrasos na construção de obras de infraestrutura já se tornaram
rotineiros. É o caso da Hidrelétrica de Colíder, da Copel, em construção
no Rio Teles Pires, em Mato Grosso, com potência de 300 MW. Vence
quinta-feira o prazo para concluir a obra, mas a Copel pediu à agência
reguladora (Aneel) prorrogação de 644 dias, prometendo entregar a usina
em 2017.
A energia da Colíder deveria ser comercializada a R$ 137,53 o MWh. Sem o
fornecimento, as distribuidoras terão de comprá-la no mercado livre, a
R$ 388,48 o MWh. Para compensar a diferença, a Aneel recomendou multar a
Copel em R$ 720 milhões, segundo reportagem do Estado. O valor equivale
a cerca de 60% do lucro da empresa em 2014.
A Copel, uma estatal paranaense, alega que os atrasos se deveram a
entraves burocráticos para obter licenciamento ambiental, invasões, atos
de vandalismo e greves de operários. Mas os técnicos da Aneel entendem
que só se justifica um atraso de 214 dias. O resto é injustificável.
A Copel tem um ambicioso plano de expansão. Além do Paraná, já atua em
sete Estados nas áreas de geração e transmissão. Não será surpresa se a
estatal pedir um aditivo para concluir as obras da Colíder, orçadas
originalmente em R$ 1,57 bilhão. As alternativas - perder o investimento
ou contratar outra empresa para terminar a construção - retardariam
ainda mais o processo.
Com a retração da economia - e do consumo de energia -, a Copel poderia
honrar os compromissos com as distribuidoras suprindo-as com a energia
produzida por outras usinas ou recorrendo ao mercado livre, incorrendo
em perdas.
A decisão de multar teria caráter exemplar, mas há dúvidas sobre a força
ou a disposição da Aneel para isso, dado o histórico de tolerância do
regulador. A Copel se junta ao rol de empresas ou consórcios que pedem
perdão pelo atraso na conclusão de projetos vitais para o reforço da
oferta, a exemplo do ocorrido com as Hidrelétricas de Belo Monte, Santo
Antônio e Jirau.
A Copel é lucrativa, mas para pagar a multa teria de sacar recursos do
caixa. Seus acionistas (o Estado do Paraná, com 58,6% do capital
votante, a BANESPar, com 26,4%, e a Eletrobrás, com 1,1%) dificilmente
poderiam aportar o capital necessário. As dificuldades financeiras são
gerais. A questão se complica, pois a Copel tem ações listadas em bolsa,
no País e no exterior. É mais uma evidência dos problemas de falta de
planejamento e de má gestão do setor elétrico nos últimos anos.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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