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10:55
ANDRADEJRJOR
ELIO GASPARI O GLOBO
A peça de Eike Batista era falsa, mas o governo vende ilusões, e o contribuinte paga as contas dos grão-duques
Numa
de suas operações espetaculosas, a Polícia Federal apreendeu na casa de
Eike Batista um ovo do joalheiro Fabergé, o queridinho dos czares
russos. Valeria US$ 20 milhões e revelou-se uma cópia barata, daquelas
que se compram no eBay por R$ 60. Cão danado, todos a ele. Essa seria
mais um prova das mistificações megalomaníacas do empresário. Problema:
não há registro de que Eike tenha dito que aquele ovo era verdadeiro.
Era apenas um momento de sonho. Uma pessoa poderia acreditar que ele
tinha um Fabergé e sua vida não pioraria. Ferraram-se aqueles que
acreditaram no seu império de portos, minas e campos de petróleo. Os
Fabergé de R$ 60, bem como os pinguins de geladeira e as reproduções da
Mona Lisa, não fazem mal a ninguém. O problema é outro, quando se
acredita em grandes lorotas empacotadas pela sabedoria de governantes e
opiniões de sábios. Eike Batista foi uma delas, mas há outras.
Veja-se
o caso do que se chama de polo da indústria naval. Nos últimos 60 anos,
os contribuintes brasileiros patrocinaram outros dois. A ideia é banal.
Assim como sucedeu com a indústria automobilística, o Brasil poderia
produzir navios. Primeiro veio o polo de Juscelino Kubitschek. Quebrou.
Depois veio o da ditadura. Também quebrou. Com uma diferença: nele, os
maganos transformaram seus papéis micados em moedas da privataria.
Assim, um banqueiro que poderia ter quebrado investindo em estaleiros
trocou o papelório pelo valor de face e comprou a Embraer. Agora está aí
o polo do Lula, com suas petrorroubalheiras. Nenhum dos três polos
navais deu certo porque, ao contrário de projetos similares de Japão,
Coreia e Cingapura, no Brasil não se respeitaram metas, prazos ou
custos. Uma pessoa pode ter um Fabergé de R$ 60 em casa, mas jamais
acreditará que pelo tempos afora se poderá produzir navios que custam
mais caro que os do mercado internacional.
Tome-se outro exemplo,
noutra área. O governo criou o programa Fundo de Financiamento
Estudantil, o Fies. Grande ideia: financia jovens que entram para
universidades privadas, como se faz pelo mundo. Mexe pra cá, mexe pra
lá, os empréstimos passaram a ser tomados sem fiador, a juros de 3,4% ao
ano e entra quem pede. A Viúva paga e os donos das escolas recebem o
dinheiro na boca do caixa. Uma beleza, o comissariado petista estatizou o
financiamento das universidades privadas. Uma faculdade de São Caetano
do Sul tinha 27 alunos em 2010, todos pagando suas mensalidades. Hoje
tem 1.272 e só quatro pagam do próprio bolso. Essa conta está hoje em R$
13,4 bilhões. O governo propôs duas mudanças singelas: só terão acesso
ao Fies os jovens que tiverem conseguido 450 pontos no exame do Enem e
as faculdades com bom desempenho. Sucedeu-se uma gritaria. Os repórteres
José Roberto de Toledo, Paulo Saldaña e Rodrigo Burgarelli informam
que, entre 2012 e 2013, o número de estudantes diplomados do setor
público cresceu 2%, enquanto no setor privado caiu 7%. Já a evasão dos
estudantes beneficiados pelo Fies cresceu 88%. Pergunta óbvia: um garoto
que abandonou a faculdade vai devolver o empréstimo que tomou sem
fiador? Resposta, também óbvia: para o dono da escola, não faz
diferença, pois ele já recebeu o dinheiro da Viúva e sabe mexer seus
pauzinhos no governo, o grande galinheiro de ovos Fabergé.
FONTE AVARANDABLOGSPOT
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