editorial da Folha de São Paulo
Há inúmeras maneiras de aquilatar o tamanho da derrota sofrida pela
presidente Dilma Rousseff (PT) com a escolha de Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
para comandar a Câmara dos Deputados, mas nenhuma supera o tom de
deboche usado por peemedebistas para se referir a dois dos mais
importantes ministros do governo federal.
Na festa da vitória de Cunha, como relatou a coluna Painel, Aloizio
Mercadante (chefe da Casa Civil) era chamado de Freddie Mercury
–vocalista bigodudo da banda Queen–, enquanto seu colega Pepe Vargas
(Relações Institucionais) tornou-se Pepe Legal –nome de um desenho
animado estrelado por um cavalo atrapalhado.
Principais responsáveis pela articulação política do Planalto, ao lado
de Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência), ambos se mostraram
incapazes de impedir a consagração de um desafeto de Dilma. Pior: nem
sequer conseguiram forçar o segundo turno.
Eduardo Cunha recebeu 267 votos, dez a mais que o mínimo necessário para
ser eleito e quase o dobro do obtido por Arlindo Chinaglia (PT-SP). Com
o apoio de 136 deputados, o petista, mesmo com todo o peso do governo a
seu favor, superou apenas por pouco os cem sufrágios de Júlio Delgado
(PSB-MG), candidato endossado pelo PSDB.
A debilidade do governo só aumenta quando se considera que, ao tentar
promover Chinaglia, o PT distribuiu cargos de direção na Câmara. Como
resultado, o partido ficou sem a presidência da Casa, sem assento na
Mesa Diretora e sem o comando de comissões importantes, como a de
Constituição e Justiça e a de Finanças e Tributação.
Mesmo no Senado, onde o aliado Renan Calheiros (PMDB-AL) foi reeleito
com 49 votos, a disputa revelou-se mais acirrada do que se supunha. Luiz
Henrique da Silveira (PMDB-SC), seu adversário, teve o apoio de 31
senadores.
O Planalto, naturalmente, procurará minimizar o vexame –missão
impossível. Buscará, além disso, botar panos quentes sobre as desavenças
com Cunha –e não se descarta que nisso tenha sucesso, ao menos num
primeiro momento.
O novo presidente da Câmara, considerado um político habilidoso, sabe o
poder que tem em mãos. Cabe a ele não só definir quais projetos serão
apreciados pelo plenário, mas também instalar comissões parlamentares de
inquérito e dar trâmite a pedidos de impeachment.
Trata-se de arsenal formidável em qualquer circunstância, mas muito mais
quando está em curso uma operação como a Lava Jato, que apura o
escândalo de corrupção na Petrobras. Eduardo Cunha não precisa de uma
guerra franca neste momento; diante de um Planalto frágil, bastam as
ameaças.
O segundo mandato de Dilma Rousseff, assim, não será somente mais difícil do que o primeiro, mas também mais custoso.
FONTE ROTA2014
0 comments:
Postar um comentário