editorial do Estadão
A cada dia, a cada nova notícia, o escândalo da Petrobrás se revela mais
amplo, mais complexo e mais difícil de entender em suas implicações
financeiras e contábeis. Encontra-se, pois, sob grave ameaça o futuro
daquela que já foi a maior e mais respeitada empresa estatal, motivo de
orgulho para os brasileiros e de admiração no exterior. O que se torna
mais claro e indesmentível a cada dia, a cada nova notícia é que, tomada
de assalto pelos governos petistas e durante mais de uma década
transformada em fonte de recursos para a promoção da imagem dos donos do
poder, a Petrobrás acabou se transformando em um enorme pesadelo para a
sociedade brasileira e para o próprio governo. Para este, de resto,
sobra um merecidíssimo atestado de incompetência.
O enorme rombo provocado na estatal pela corrupção que a Operação Lava
Jato trouxe à luz, aliado à crise provocada pela queda do preço
internacional do barril de petróleo desde outubro e, ainda, à inépcia
gerencial da empresa, levou a presidente da companhia, Graça Foster, a
anunciar medidas amargas: nos próximos anos a exploração de petróleo
será reduzida ao "mínimo necessário", investimentos serão cortados e
novos projetos considerados com extremo rigor seletivo. Em resumo, a
Petrobrás terá de ser "redimensionada", maneira eufemística de dizer que
já se tornou uma empresa menor e menos importante.
O detalhe curioso - trágico talvez seja a expressão mais adequada - é
que ninguém no corpo diretivo da empresa, da Diretoria Executiva ao
Conselho de Administração, tem a menor ideia do tamanho do rombo. Os
valores comprometidos com a corrupção são uma grande incógnita, segundo
admite a própria diretoria da empresa ao justificar não tê-los abatido
dos ativos declarados no balanço apresentado dias atrás: "Existem
severas limitações que tornam a quantificação desses valores
impraticável, tanto para fins de correção quanto para evitar
capitalizações futuras". Uma auditoria independente indicou que seria
preciso dar baixa a R$ 88,6 bilhões em ativos. Pode ser mais, como poder
ser menos. Ninguém sabe.
O fato é que as declarações de Graça Foster levaram sua amiga Dilma
Rousseff a mais um de seus acessos de irritação, que de tão frequentes e
inconsequentes são cada vez menos levados em conta. A presidente teria
esbravejado por causa do que considerou incompetência de Graça Foster ao
divulgar de forma "amadora" os números da auditoria independente.
A chefe do governo pode se enfezar com o que quer que seja, mas, no caso
da Petrobrás, a verdade é que ela teve quatro anos - um mandato inteiro
de presidente da República - para promover o saneamento da maior
empresa brasileira e levá-la a adotar padrões de excelência de
governança, compatíveis com sua importância aqui e no exterior. Se não o
fez, foi por incompetência, sua e do corpo diretivo que colocou na
estatal.
Esta é a versão benevolente desta triste e obscura história, pois sempre
ficarão no ar as perguntas que não se calam: ela deixou a situação
chegar a esse ponto porque a esbórnia lhe era politicamente conveniente?
E, depois de arrombadas portas e janelas, ela se preocupou realmente
com a situação da estatal ou com as repercussões negativas do episódio
sobre seu governo?
Afinal, não é descabida a hipótese de que a presidente da República, a
quem seria impossível ignorar o que se passava na Petrobrás, tenha sido
levada pelas "injunções políticas" a fazer vista grossa a uma armação
que, na lógica safada de seu partido, era um "direito natural e
legítimo" dos donos do poder. Nesse caso a incompetência do governo se
limita ao fato de não ter sido capaz de abafar o escândalo. Seja como
for, o fato é que Dilma Rousseff tem inegáveis responsabilidades pela
situação em que se encontra a Petrobrás.
Como de hábito, pelo menos parte do preço de mais essa lambança na
gestão da coisa pública vai acabar sendo paga pelos cidadãos, milhares
de indivíduos que - como outro tanto de pessoas jurídicas - são
acionistas da Petrobrás. Com a maior candura, o diretor de Finanças da
petroleira anunciou que o pagamento de dividendos, na hipótese
aparentemente remota de que existam, poderá ser "adiado". Esses
acionistas devem estar perguntando, como a Nação: o que Dilma está
esperando para trocar todo o corpo diretivo da Petrobrás?
FONTE ROTA2014
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