Com Veja e Estadão Conteúdo
Pesquisas eleitorais da campanha municipal de 2016 foram registradas com
dados falsos de estatísticos, segundo denunciam os próprios
profissionais. Doris Fontes, presidente do Conselho Regional de
Estatística da 3.ª Região, afirma que nomes e números de registro de
filiados à entidade aparecem em levantamentos no site do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) sem que eles tenham participado de fato dos
trabalhos. Ela própria teve seu nome utilizado em mais de 20 pesquisas
realizadas pela empresa Bom Dia Rio Preto Comunicações. “Nunca na minha
vida realizei pesquisa eleitoral”, ressaltou.
Outros profissionais relatam situações semelhantes. Renata Nunes César,
do instituto Datafolha, afirma que seu nome e registro foram usados para
o registro de uma pesquisa na cidade de Campo Limpo, em Minas Gerais,
pela empresa Diário Em Dia. Ela afirmou nunca ter atuado em pesquisas
fora do instituto em que trabalha.
Maria Rita Lucas, do Instituto Statsoft, afirmou que seu instituto
aparece nos registros do TSE como autor de três pesquisas eleitorais,
embora não trabalhe com essa atividade. Além disso, os registros indicam
o nome e número de um estatístico que é ex-funcionário do Statsoft,
André Willy Castro. Ele afirmou que não realizou nenhuma das três
pesquisas.
Exigência
O TSE exige que toda pesquisa eleitoral seja registrada em seu site
antes de realizada, com os dados do contratante e do estatístico
responsável. O tribunal, porém, “não realiza qualquer controle prévio
sobre o resultado das pesquisas”, segundo informa seu site.
A descoberta das fraudes se deu porque, nas eleições de 2016, o TSE
passou a permitir em seu site a consulta por nome e número de registro
de estatísticos responsáveis por pesquisas.
No Maranhão, a empresa Ma+ Consultoria e Serviços usou dados falsos de
um estatístico em um levantamento na cidade de Formosa da Serra Negra. O
dono da empresa, Avenildo Aquino Pinto, foi preso por estelionato em
março deste ano. Ele é alvo de inquérito policial por ter dois CPFs.
Nos registros do TSE, o nome do responsável pela pesquisa da Ma+ em
Formosa da Serra Negra é Lázaro Ramos de Andrade, com o número de
registro profissional 7941 – esse registro, porém, pertence a outro
estatístico, Carlos Magno Machado, do Rio Grande do Norte. A Ma+
registrou uma segunda pesquisa em nome de Lázaro Ramos de Andrade, na
cidade de Grajaú, no Maranhão, mas com outro número de registro
profissional.
O proprietário da empresa Bom Dia Rio Preto, Kleber Moreira, negou que
as pesquisas tenham sido registradas sem o consentimento da estatística
Doris Fontes e afirmou que ela foi contratada de fato para a pesquisa.
Já o proprietário do Diário Em Dia, de Campo Belo, Richard Pereira, e a
empresa Ma+ não responderam às ligações da reportagem.
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