editorial de O Globo
Parece um exercício impossível tentar imaginar como estaria a Petrobras
se não houvesse a roubalheira do petrolão, mas fossem mantidas as linhas
básicas da gestão estatista, intervencionista, com que a empresa foi
tocada nos 13 anos de lulopetismo, período em que a estatal só não teve
que pedir recuperação judicial — novo nome de “concordata” — por estar
ligada umbilicalmente ao Tesouro.
Mas não é difícil especular com boa margem de acerto. Passando ao largo
da discussão sobre se a corrupção é inerente ao estatismo — são
estridentes as evidências de que a resposta é positiva —, tudo leva a
crer que, mesmo se houvesse sido administrada dentro de razoáveis
padrões éticos, a Petrobras estaria com problemas, devido aos erros de
visão do lulopetismo.
Talvez, apenas, com dificuldades menos agudas. Os bilhões surrupiados da
estatal chamaram a atenção do mundo. Em balanço, já existem R$ 6,2
bilhões contabilizados como perda patrimonial devido à corrupção. Mas,
se forem levadas em conta perdas em investimentos malfeitos, induzidos
de alguma forma pela quadrilha do petrolão, os prejuízos chegam às
dezenas de bilhões.
O uso eleitoreiro dos preços de combustíveis, a política míope de
substituição de importações de equipamentos, o afastamento de grupos
privados do pré-sal, devido à mudança do modelo de licitações, teriam
desestabilizado de qualquer jeito a companhia. A prova está em que
correções acertadas têm sido feitas com a saída de Dilma do Planalto, a
chegada de Temer e, com ele, Pedro Parente na empresa, e elas passaram a
melhorar a avaliação da estatal nos mercados.
A cotação das ações PN da empresa pouco mais que quadruplicou em relação
ao início de janeiro (de R$ 4,20 para R$ 18). Com isso, o valor de
mercado da companhia passou de R$ 67,8 bilhões, para a faixa acima dos
R$ 250 bilhões. A recuperação do preço mundial do petróleo, de US$ 28
para o nível de US$ 50, também ajudou, mas por si só não seria capaz de
promover esta valorização da estatal. Mesmo ainda com a maior dívida
entre as petroleiras, uma das mais elevadas do planeta, prevê-se que, a
médio prazo, a Petrobras voltará a estar no grupo das seis grandes no
setor em escala mundial. As perspectivas otimistas se consolidam, com
uma política de preços transparente que enfim liga o mercado interno às
cotações internacionais. Algo fundamental para melhorar a atratividade
de ativos de que a empresa começa a se desfazer, para reduzir o
endividamento. Por exemplo, o controle da BR Distribuidora.
Também contribui muito para pavimentar o caminho à frente da estatal a
revogação, pelo Congresso, de parte substancial da regulação estatista
da exploração do pré-sal, da qual constavam o monopólio da empresa na
operação na área e a participação compulsória em 30% de todos os
consórcios. Sequer haveria dinheiro para isso.
Com a empresa podendo escolher de qual consórcio participar, e sem o
monopólio na operação, tudo ficou razoável. Os capitais privados
voltarão a ter interesse no pré-sal, cuja exploração deverá ganhar
alguma velocidade.
A mistura de ausência de preconceito ideológico com gestão profissional
tem conseguido recuperar a estatal. O caso fica como lição para os
partidos políticos.
extraídaderota2014blogspot
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