Alexandre Schwartsman:Folha de São Paulo
As despesas primárias do governo federal em 2015 totalizaram R$ 1,2
trilhão (19,5% do PIB; eram 14% do PIB em 1997), número que não inclui
os gastos de 27 Estados e cerca de 5.500 municípios espalhados pelo
país.
Graças, porém, a trabalho recente da Secretaria do Tesouro Nacional,
ficamos sabendo que em 2014 os três níveis de governo no Brasil gastaram
R$ 2,1 trilhões, o equivalente a 36,5% do PIB, aumento de quase R$ 400
bilhões na comparação com 2010, quando o dispêndio atingiu R$ 1,7
trilhão (a preços de 2014), ou 33,8% do PIB.
Não há dados oficiais comparáveis para períodos mais longos, mas, em
relatório para clientes, estimamos que entre 1997 e 2015 as despesas
primárias consolidadas tenham aumentado em pouco mais de R$ 1 trilhão;
R$ 808 bilhões por conta e obra do governo federal, e o restante, R$ 220
bilhões, vindo de Estados e municípios.
Dos R$ 2,1 trilhões gastos em 2014, o funcionalismo consumiu quase 1/3
do total (12,5% do PIB), distribuído de forma razoavelmente equilibrada
entre os três níveis de governo, e foi, de longe, a maior despesa,
superando a Previdência (8% do PIB), gastos sociais (7% do PIB) e
aquisições de bens e serviços (5,5% do PIB), assim como os demais
dispêndios. O leitor não deve ter maiores dificuldades para inferir
quais são as prioridades do gasto público.
Como notei em colunas anteriores, a proposta de teto constitucional para
a despesa pública afeta apenas o governo federal, que hoje responde por
pouco mais que a metade do total. É verdade que limita a parcela que
tem crescido de maneira mais vigorosa nos últimos 18 anos, mas não tem
nenhum efeito sobre governos locais.
Isto dito, o comportamento relativamente mais contido destes no período
resultou em larga medida do acordo de reestruturação das dívidas firmado
ao fim nos anos 1990, que na prática forçou os Estados a se comprometer
com o pagamento de seus débitos com a União e, portanto, a segurar seus
gastos. No entanto, isso deixou de ser verdade nos últimos anos. Não é
por outro motivo que muitos se encontram em Estado calamitoso, chegando a consumir 75% de suas receitas com pessoal.
Mais importante, a recente rodada de renegociação dessas dívidas abriu
várias frentes que permitirão expansão do gasto estadual e municipal.
Prestações bastante reduzidas e a postergação dos primeiros pagamentos
abrem a possibilidade concreta de aumento das despesas no futuro
imediato.
Contra esse pano de fundo, é de estranhar a resistência a uma proposta
de ajuste extraordinariamente gradual da despesa, que, se aprovada hoje,
precisará de pelo menos três anos para trazer o gasto federal para
níveis observados em 2014, sem nenhum controle, repito, sobre governos
locais.
Não falta quem acredite em soluções fáceis para esse dilema. Não há,
como também não há como fazer o problema ir embora fingindo que ele não
existe. Ou bem entendemos a esfinge ou ela há de nos devorar.
Vladimir Safatle ficou
tão ofendidinho por eu ter apontado seus erros que parece ter problemas
com interpretação do texto. Jamais disse que apenas economistas sabem
fazer conta; apenas que ele não sabe. Tanto é que, em vez de responder
a minhas objeções, usa o velho truque de tentar desqualificar o autor do argumento. Triste, mas nada surpreendente...
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