Ruy Castro: Folha de São Paulo
Marcelo Crivella e Marcelo Freixo, candidatos a prefeito do Rio no
segundo turno, têm se atacado tão bem que o eleitor, convencido de que
os dois estão falando a verdade, cogita não votar em nenhum.
Freixo acusa Crivella de odiar gays, católicos e macumbeiros e de ser
apoiado pelas milícias e teleguiado por Garotinho. Crivella, em troca,
acusa Freixo de proteger black blocs, ser complacente com os traficantes
e jogar para a galera ao gritar "Fora Temer" sabendo que, como
prefeito, não poderá brigar com Brasília.
Não por acaso, os dois se defendem mal. Crivella admite tibiamente que
era intolerante, mas evoluiu. Freixo também murcha as orelhas,
tartamudeia que não tem a ver com os black blocs - que, ao serem presos
nas manifestações, corriam para o seu colo -, e evoca sua luta contra as
milícias, que o obrigaram a exilar-se na Espanha por 15 dias. Lamento,
mas não me convencem. Eles teriam de tomar atitudes mais radicais para
eu acreditar neles.
Crivella, por exemplo. Já que é hoje tão liberal, gostaria de vê-lo num
beijaço gay em Copacabana, beijando e oferecendo a outra face. Ou saindo
à rua abraçado à imagem de Nossa Senhora Aparecida, aquela que, há
anos, um colega seu chutou, numa cena famosa. Ou depositando um
"despacho" de galinha, farofa e cachaça numa encruzilhada da zona oeste.
Quanto a Freixo, seria instrutivo vê-lo retirar, uma a uma, as máscaras
dos arruaceiros que destroem patrimônio público e privado em
manifestações e aconselhá-los paternalmente a não fazer mais isto, nem
assassinar cinegrafistas indefesos. Poderia também demonstrar alguma
simpatia pelos policiais mortos no Rio - 91 este ano, até agora.
OK. Nos últimos 30 anos, o Rio sobreviveu a Brizola, Moreira Franco, os
Garotinho, Benedita da Silva e outras catástrofes. É indestrutível.
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