editorial do Estadão
Com a pretensão de ensinar aos brasileiros como devemos nos comportar
diante da corrupção, esses catedráticos em bandalheira deram declarações
esclarecedoras – e estarrecedoras – nos últimos dias. O ex-presidente
Lula da Silva, por exemplo, assinou artigo no jornal Folha de S.Paulo no
qual diz perceber “uma perigosa ignorância de agentes da lei quanto ao
funcionamento do governo e das instituições”. Para o chefão petista, os
delegados e promotores “não sabiam como funciona um governo de
coalizão”. Infelizmente, a aula do mestre Lula terminou aí, mas os bons
alunos haverão de entender a lição: a julgar pela experiência petista,
um governo de coalizão funciona na base da compra, de preferência em
dinheiro vivo, de apoio parlamentar, razão pela qual não é possível
pensar num governo que arregimente apoio apenas na base de afinidade de
ideias. Para Lula, é evidente que os agentes da lei tinham de saber
disso.
Movido pelo mesmo espírito didático, Eugênio Aragão, que foi ministro da
Justiça do governo de Dilma Rousseff até o impeachment da presidente,
deu uma entrevista à revista Carta Capital na
qual se propôs a explicar aos cidadãos por que a corrupção não apenas é
“tolerável”, segundo suas próprias palavras, como também, em certos
aspectos, é positiva.
Como Lula, Aragão tratou de desqualificar os procuradores da República
porque, segundo ele, desconhecem como funciona a corrupção. “Essa
garotada do Ministério Público não tem a mínima noção de economia”,
disse Aragão. Para ele, empresas pilhadas em corrupção, como aconteceu
na Lava Jato, não deveriam ser punidas, porque, nesse caso, empresas
estrangeiras tomariam seu lugar, roubando empregos dos brasileiros.
“Aqui no Brasil a gente entrega nossos ativos com uma facilidade
impressionante”, protestou Aragão. Os procuradores “não sabem como isso
funciona” e “simplesmente botaram na cabeça uma ideia falso-moralista de
que o País tem de ser limpo”, argumentou ele. Ora, diz o ex-ministro,
“corrupção existe em todas as parte dos mundo” e “não é um problema
moral, é sobretudo um problema estrutural simples”.
E a aula prosseguiu. A corrupção acontece, explicou Aragão, “quando os
processos administrativos de decisão são bloqueados” e, para
desbloqueá-los, “a empresa distribui dinheiro”. Ao “molhar a mão dos
fiscais para isso ir mais rápido”, conforme argumentou o ex-ministro, a
empresa consegue superar a burocracia “e entrar mais cedo como
concorrente no mercado”, razão pela qual – atenção – “do ponto de vista
econômico isso não é ruim, não”. Para Aragão, “a corrupção que, na
verdade, serve como uma graxa na engrenagem da máquina, essa, do ponto
de vista econômico, é tolerável”. E ele arremata: “A Lava Jato gaba-se
de ter devolvido ao País R$ 2 bilhões. E quantos bilhões a gente gastou
para isso? Do ponto de vista econômico, a conta não fecha”.
Portanto, não se trata de entender a corrupção como parte de um mundo
naturalmente imperfeito. O que se tem aqui está em outro patamar: para
essa turma, temos que aceitar que o combate à corrupção é indesejável e
prejudica o País. Felizmente, os brasileiros estão a dizer claramente
para esse pessoal, nas urnas e nos tribunais, o que pensam disso.
extraídadeeavarandablogspot
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