por Ricardo Bordin.
(Publicado originalmente por institutoliberal.org.br)
Tudo
começou com uma constatação inequívoca do perfil no Twitter “Editora
Humanas”: praticamente toda pessoa que publicava posts manifestando
posição contrária ao impeachment de Dilma, criticando os Bolsonaro,
pregando o socialismo, tremulando a bandeira do feminismo, pedindo votos
em Marcelo Freixo, clamando pela legalização dos entorpecentes (enfim,
bancando o idiota útil da Esquerda), já havia, em algum momento de seu
passado (ou até na mesma postagem), maldito os próprios pais ou
queixando-se de sua ausência em suas vidas, por meio de alguma mídia
social. O percentual de casos verificados com esta coincidência foi tão
significativo que acabou gerando um “spin-off” daquele perfil, o
@meupaiausente. Só que tal ocorrência, infelizmente, não se trata tão
somente de uma surpreendente casualidade, mas sim do resultado prático
de décadas de doutrinação marxista, a qual, por meio de diversos
instrumentos ideológicos, ataca a família tradicional incessantemente. O
cenário atual no Brasil não poderia, pois, ser diferente.
Que a
ausência dos pais pode comprometer a saúde emocional dos filhos não é
novidade alguma. O que impinge aqueles que buscam o agigantamento do
aparato estatal a usarem estas pessoas carentes como ferramentas, em
busca de seu propósito máximo, é que precisa ser elucidado. Marilena
Chauí nos fornece algumas pistas quando assevera que aqueles que
defendem a família são “bestas”, e que os pais são “déspotas de sua
prole”. Se ela assim afirma, é sinal de que a família representa um
obstáculo para o arranjo social que ela gostaria que fosse implantado.
Mais do que isso: a estrutura familiar é o último sustentáculo da
civilização ocidental, e já não é mais possível prever por mais quanto
tempo poderá resistir ao empuxo “progressista”.
O amadurecimento
do indivíduo passa, necessariamente, por uma fase de dependência
familiar, onde ele ainda não possui maturidade suficiente para fazer
escolhas por conta própria. Neste período, portanto, ele não deve dispor
da liberdade para traçar os próprios rumos, e deve subordinar-se às
decisões tomadas por seus pais, com um grau mínimo de ingerência
própria. Com o avanço da idade, é natural que a pessoa, por meio da
experimentação e do acúmulo de conhecimento prático, desconecte-se,
gradativamente, da “barra da saia” da mãe, passando a assumir as
consequências por seus erros e a auferir os louros de suas conquistas.
Quando este processo é interrompido ou sequer tem início, há grande
chance de esse indivíduo procurar esta referência paternal em alguma
outra figura abstrata ou concreta. E já que o governo não pode ver
ninguém sofrendo que já fica alvoroçado, é claro que ele vai se oferecer
para “tomar conta” desses pobres coitados, assumindo a função de
“babá”. Só que esta pessoa adotada pelo Estado precisa entender que este
papai tem muitos outros filhos órfãos sob sua tutela, e, portanto, ela
deve submeter-se ao interesse coletivo de todos os demais desamparados
recolhidos.
Ademais, ele não deve almejar sua independência
jamais, pois tal ato de rebeldia colocaria em risco a subsistência dos
demais maninhos. Caso insista na pirraça, deverá ser castigado, como
medida pedagógica, emitindo um aviso aos demais membros da grande
família estatal. Assim, todos devem trabalhar em prol da comunidade, sob
a orientação do generoso padrasto, permitindo que ele esquadrinhe cada
aspecto de sua vida, determinando desde sua alimentação até o que ele
vai assistir na TV. Sim, é exatamente o que parece: o totalitarismo
encontra forte resistência na família, e a forma mais eficaz de
subjugá-la é, na verdade, tomando seu lugar e assumindo suas funções.
Não à toa, no livro 1984, de George Orwell, o indivíduo é criado pelo
estado, e a família serve apenas para procriação.
Ou seja, a
destruição do modelo de família tradicional é o primeiro passo para
instalar a desordem social que servirá de base para esta revolução
cultural – e isso já está acontecendo bem diante de nossos olhos. Karl
Marx, em seu medonho Manifesto Comunista, considera o núcleo da “família
burguesa” uma instituição que precisa ser abolida, pois, segundo
consta, ela seria baseada somente no capital – homens exploram mulheres,
pais exploram crianças. Interessante notar que, vendo a questão por
este ângulo, os marxistas simplesmente desconsideram que tais pessoas
permanecem ligadas por laços afetivos. Será que Marx também ficaria
famoso no @meupaiausente se houvesse twitter aquela época? Bem provável.
Assim sendo, não basta aos revolucionários catarem somente os frutos
que caem da árvore; isto é, não é suficiente cooptar para seu exército
de desocupados apenas aquelas pessoas que, por motivos de ordem diversa,
não possuem vínculos familiares sólidos. Não mesmo. Eles precisam
atacar também aquelas que são membros de famílias estáveis e felizes
(até então), e voltá-las contra seus irmãos e genitores. Desta forma, o
“monopólio da generosidade” fica na mão do Estado.
Entenda: se eu
precisar de socorro financeiro, por exemplo, posso recorrer a algum dos
meus parentes; mas se eu mal olho na cara deles, quando vier a
atravessar uma situação de penúria, precisarei aceitar ajuda estatal
(bolsa família, seguro-desemprego, subvenções para cursar faculdades e
adquirir moradia, e por aí vai). Extrapolando os efeitos desta lógica
para todas as situações da vida em que demandamos auxílio de terceiros,
passa a ser aceito com naturalidade que o Estado cresça até níveis
insuportáveis pelos pagadores de impostos – sempre em nome do “social”,
que nada mais é do que socorrer pessoas em necessidade, como descrito no
exemplo. Quando a família não mais pode prover abrigo material e
psicológico para seus entes (ou mesmo existir), os camaradas surgem como
o último recurso, a mão estendida, o ombro amigo. E pense em um ombro
caro.
Como provas do sucesso parcial alcançado por este pessoal
“gente boa” que quer prestar serviços terceirizados de caridade, estão
aí o aumento do número de divórcios; o avanço dos defensores do
assassinato de bebês; o crescente número de idosos abandonados; a
ridicularização, em filmes e seriados, do homem ocidental como provedor
da família; a ideologia de gênero ganhando terrenX; o feminismo cada vez
mais convencendo mulheres de que seus maridos são seus inimigos, que
seus filhos (quando são gerados) são estorvos em suas vidas, e que
colecionar parceiros sexuais em profusão faz parte da luta pela
libertação feminina; os “educadores” estatais declarando descaradamente
que cabe a eles decidir o que deve ser ensinado a nossas crianças – e
lecionando, claro, tudo o que consta em sua agenda enviesada
politicamente; o vício em drogas destruindo famílias como um verdadeiro
tsunami.
A propagação do relativismo moral e a flexibilização dos
sensos de justiça e de honra contribuem para erigir um império de
conflito e agitação, propício para aqueles que buscam corromper a ordem
natural das coisas e lançar por terra tudo o que tirou a humanidade da
barbárie do período pré-civilizatório. Roger Scruton, em artigo
recentemente publicado, abordou essa necessidade de desapego do mundo
real na busca pelo igualitarismo:
“Dessa forma, para Žižek
(stalinista), o pensamento cancela a realidade, quando o pensamento está
“à esquerda”. O que você faz importa menos do que o que você pensa
estar fazendo, dado que o que você pensa estar fazendo tem o objetivo
principal de emancipação – de égaliberté, como colocou o teórico
marxista Étienne Balibar. O objetivo não é igualdade ou liberdade no
sentido qualificado em que você ou eu entendemos esses termos. É a
igualdade absoluta (com um pouquinho de liberdade, se você tiver sorte),
que, por sua natureza, só poderá ser atingida por meio de um ato de
total destruição. Buscar esse objetivo também pode significar reconhecer
sua impossibilidade – não é a isso que equivalem esses projetos
“totais”? Não importa. É precisamente a impossibilidade da utopia que
nos prende a ela: nada pode macular a pureza absoluta do que jamais será
testado”.
Sendo a família considerada a mais importante célula
da sociedade, já que através dela que aprendemos a perceber o mundo e a
nele nos situarmos, formando nossa identidade e dando início ao processo
de socialização do indivíduo, ela não poderia deixar de ser a primeira
vítima daqueles que buscam subverter ostatus quo. Ataque-a, e tudo o
mais virá abaixo, facilitando o trabalho dos inimigos dos valores e
princípios conservadores. Russell Kirk costumava afirmar que uma
sociedade amoral é uma sociedade caótica, e que“independentemente do
sistema político vigente, uma sociedade em que homens e mulheres
conheçam as normas e respeitem as convicções de “certo” e “errado”,
sempre será uma boa sociedade. Entretanto, seres humanos voltados apenas
para a “gratificação de seus apetites”, produzirão uma sociedade ruim”.
Adulterar as fases do amadurecimento do indivíduo tem se mostrado, até
então, uma das estratégias mais eficientes adotadas com este intuito de
convulsionar a sociedade. Expondo crianças ao sexo precoce em sua
infância, e privando-lhes, destarte, de uma etapa essencial de seu
desenvolvimento emocional, verdadeiro alicerce do ser humano que será
formado ali na frente, torna-se improvável que ele venha a reunir
condições de constituir uma família.
O resultado que se costuma
observar são pessoas buscando eternamente esta etapa perdida de suas
vidas, sem conseguir portarem-se como adultos, e, claro, sem demonstrar a
estrutura psicológica necessária para responsabilizar-se pelo bem estar
de outras pessoas – exatamente em que consiste ser arrimo de família.
Adicionem-se neste caldo os filhos de adolescentes (alguns deles gerados
dentro da escola – literalmente), advindos dessa mesma deturpação de
padrões e costumes, e está pronto o preâmbulo de tantas histórias de
“pai ausente” em nosso país. Ainda bem que a “creche estatal” sempre
mostra-se solícita em acolher estas eternas crianças que sentem falta
dos pais, não é mesmo? Essa indústria de massa de manobra é a única no
Brasil que não sofre os efeitos da crise…
Sobre
o autor: Atua como Auditor-Fiscal do Trabalho, e no exercício da
profissão constatou que, ao contrário do que poderia imaginar o senso
comum, os verdadeiros exploradores da população humilde NÃO são os
empreendedores. Formado na Escola de Especialistas de Aeronáutica (EEAR)
como Profissional do Tráfego Aéreo e Bacharel em Letras
Português/Inglês pela UFPR. Também publica artigos em seu
site:https://bordinburke.wordpress.com/
EXTRAÍDADEPUGGINA.ORG
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