Fernando Canzian: Folha de São Paulo
A economia brasileira deve encolher 3,2% neste ano. A da Argentina pode cair 1,5% e a da Venezuela, até -13%.
O rastro deixado pela esquerda com viés populista (Dilma, Cristina e
Maduro) nos três países formam um bom quadro da atual regra do jogo na
economia global.
No Brasil, dólar em queda e Bolsa em alta refletem só expectativas: 1)
da eficácia de um plano (o teto) para conter a explosão da dívida
pública e; 2) do compromisso da equipe de Henrique Meirelles (Fazenda)
com as regras de mercado e a estabilidade.
A economia parada, o deficit de R$ 170,5 bilhões e Michel Temer na corda
bamba da Lava Jato não justificariam o otimismo. Mas passam a elementos
secundários em um mercado global inundado por dinheiro barato à procura
de rentabilidade.
Onde há intenção de não maltratar esse capital, maior a chance de recebê-lo e usá-lo como escada para sair do buraco.
A Argentina dá o exemplo. Após adotar discurso pró mercado em 2015, o
presidente Mauricio Macri ganhou tempo (e financiamento) para postergar
de 2017 para 2018 um ajuste mais pesado nas contas públicas, arruinadas
pelo Kirchnerismo.
Neste ano, a Argentina já levantou R$ 40 bilhões no mercado internacional para financiar seu endividamento.
Com isso, Macri planeja uma economia mais solta em 2017 para tentar
faturar as eleições legislativas de outubro, consideradas um plebiscito
em meio de mandato.
Nada de muito fundamental mudou em menos de um ano, desde que assumiu.
Mas a nova orientação influiu nas expectativas, e o mercado comprou a Argentina.
O exemplo contrário é a Venezuela, à beira de um grave conflito interno
depois da suspensão da segunda fase de convocação de um referendo sobre o
mandato de Nicolás Maduro, que vai até 2019.
Enquanto seu povo passa fome, o país mantém rigorosamente em dia
pagamentos de sua dívida externa de US$ 11,6 bilhões a vencer neste ano e
em 2017. O temor é se tornar pária no mercado internacional.
Mesmo assim, a Venezuela segue de joelhos por conta de seu histórico hostil ao mercado.
Nesta semana, a estatal petroleira PDVSA pagou juros elevados (8,5% ao
ano) e teve de dar ações de uma subsidiária nos EUA (a Citgo) em
garantia para poder rolar com credores US$ 2,8 bilhões de dívida
vencendo em 2017. Além dos juros e das garantias, a dívida foi acrescida
de US$ 600 milhões.
No meio do caminho, saindo do desastre de Dilma Rousseff e no rumo da
estabilidade perseguida por Temer/Meirelles, o Brasil ainda não produziu
nada de muito concreto para justificar o recente otimismo.
Corre no vazio, mas endireitou a postura, o que bastou para ganhar tempo.
Se o passado serve para algo, mostra que levará muito tempo para a
esquerda latino-americana se levantar de suas experiências contrárias a
bons fundamentos econômicos.
extraídaderota2014blogspot
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