Fábio Fabrini, Idiana Tomazelli - O Estado de S.Paulo
Aguardada pela equipe econômica como alternativa para reduzir a dívida
pública, a devolução antecipada de R$ 100 bilhões pelo Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao Tesouro Nacional deve
receber o aval do ministro Raimundo Carreiro, relator da matéria no
Tribunal de Contas da União (TCU). O julgamento sobre a regularidade da
transação está previsto para esta quarta-feira, 26.
O Estado apurou
que o ministro ainda trabalha nos últimos detalhes do voto que será
proferido em plenário, mas a posição de Carreiro deve seguir a
manifestação favorável da área técnica. Segundo os auditores do TCU, a
operação pretendida pelo governo “não parece se enquadrar” no artigo da
Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) que proíbe o recebimento antecipado
de valores de instituições controladas pela União.
“A transação tem o potencial de reduzir o elevado custo que os subsídios
implícitos ao BNDES acarretam ao Tesouro. Subsídios esses que não mais
se justificam, uma vez que parcela expressiva dos recursos não foi
aplicada nas políticas públicas para as quais foi originalmente
destinada. Neste caso, sobressai a razoabilidade em prol do interesse
público da operação de cancelamento, que, por sua vez, demonstra-se
alinhada aos objetivos fundamentais da LRF”, diz o parecer técnico da
Secretaria de Macroavaliação Governamental (Semag).
O plano do governo é reaver R$ 100 bilhões dos mais de R$ 500 bilhões
repassados ao banco de fomento desde 2009. Desse total, R$ 40 bilhões
seriam pagos este ano. Outras duas parcelas de R$ 30 bilhões entrariam
em 2017 e 2018.
Lupa. O
desdobramento do caso no TCU é acompanhado com lupa pelo governo desde o
fim de maio, quando o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, anunciou
o plano. O esforço para aprovar a operação envolveu visitas do
secretário de Acompanhamento Econômico da Fazenda, Mansueto Almeida, do
secretário de Política Econômica, Carlos Hamilton, e do assessor
especial, Marcos Mendes, à corte de contas.
Antes de proferir sua avaliação final, a Semag enviou suas análises
preliminares aos Ministérios da Fazenda, do Planejamento, ao BNDES e ao
Banco Central. As duas pastas manifestaram-se a favor da operação. O
BNDES, por sua vez, disse que, conforme a decisão do TCU sobre a
legalidade da transação, “não haveria óbice à liquidação antecipada de
contratos de empréstimo celebrados entre a União e o BNDES”. A questão
seria então alvo de negociação específica com a Fazenda e submetida à
manifestação de seu Conselho de Administração.
O Banco Central também se mostrou favorável ao procedimento. Segundo o
BC, não há objeções do ponto de vista da condução da trajetória da Selic
nem da óptica da supervisão macroprudencial. “Dela (devolução) não
decorrerá impacto para a instituição financeira em termos de risco de
liquidez, de mercado, de crédito, de estratégia e de capital”, disse a
instituição.
O BC disse ainda que o BNDES tem excesso de liquidez, ou seja, possui
recursos muito além do que é necessário. A instituição calcula que este
excesso seja da ordem de R$ 150 bilhões. O Banco Central também elencou
dois efeitos positivos da devolução dos valores: o recuo da dívida bruta
do governo federal e a redução da trajetória dos juros pagos pela
União.
Caso a operação seja concretizada, a área técnica do TCU listou uma
série de determinações que deverão ser seguidas pelo Ministério da
Fazenda. Entre elas está a “ampla divulgação” das razões da operação e
do método de pagamento escolhido, em recursos financeiros ou títulos
federais.
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