Carlos Heitor Cony: Folha de São Paulo
O lugar-comum garante que o fato histórico, repetido várias vezes, torna-se ridículo.
O atual imbróglio que está bagunçando a nossa classe política, com os
principais tubarões da corrupção e do crime, mas sobretudo com as
delações premiadas, está lembrando o massacre de São Valentim, quando
duas gangues, durante a Lei Seca nos Estados Unidos, disputavam com
bombas e fuzis Thompson o comércio das bebidas proibidas.
O dia de São Valentim ficou marcado pela chacina de um dos grupos sobre o
outro. Como todos eram mais ou menos capangas uns dos outros, as
delações, algumas premiadas, colocaram Chicago numa situação parecida
com a que vivemos hoje no Brasil com a Lava Jato.
Generalizando, parece que todos, de alguma forma, estão comprometidos
com a corrupção, que se manifesta de mil modos, desde cargos de primeiro
escalão até a troca de apoios e coligações ao preço daquelas notinhas
verdes impressas pelo Federal Reserve Note.
Pelo que se sabe, ainda não houve, até agora, um "fatto di sangue" como o
que marcou a Lei Seca nos Estados Unidos. Mas o chão está estrumado
para arrebentar de uma hora para outra, com as novas revelações e
delações, premiadas ou não.
Curiosamente, e diferentemente do massacre de São Valentim,
misturaram-se altos funcionários do primeiríssimo escalão, políticos de
vários partidos e alguns empreiteiros das principais companhias da
iniciativa privada.
Executivo, Legislativo e Judiciário ficaram, uns mais, outros menos, reféns da Lava Jato.
Quando Deus mandou Noé construir uma arca para salvar os justos, não
precisaria de uma arca, bastaria uma boia ou um pedaço de tábua. A
impressão que dá é a de que ninguém merece realmente salvação, inclusive
os casais de animais, um de cada espécie.
extraídaderota2014blogspot
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