Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

"Pós-urnas terá choro e ranger de dentes"

 Renata Lo Prete:O Globo

Dizem os manuais que o segundo turno é outra eleição. Não desta vez. A maioria dos grandes municípios chega ao fim da campanha sem as reviravoltas que o bombardeio de propaganda em doses iguais tem potencial para provocar.
Em apenas cinco capitais o segundo colocado em 2 de outubro aparece hoje numericamente à frente nas pesquisas: BH, Curitiba, Belém, São Luís e Aracaju. E nas cinco a disputa continua acirrada, impedindo que se crave a inversão como definitiva. Nas demais 13 que ainda escolherão prefeito, é como se o eleitor, fatigado, tivesse desistido do espetáculo e entrado em hibernação durante quatro semanas. Tudo está como no início do mês.
Isso inclui o elevado patamar de “não voto” (soma de brancos, nulos e abstenções) em algumas praças. No Rio, ele equivale à intenção de voto em Marcelo Freixo (PSOL), de acordo com o Ibope mais recente. Em Porto Alegre, o jingle “Anula Lá”, sucesso nas redes, virou hino de parcela do eleitorado vermelho decidida a não validar, nem mesmo pelo mecanismo clássico da rejeição ao “mal maior”, um mano a mano exclusivamente azul.
No primeiro turno, o brasileiro optou em cima da hora — mais de 30% na última semana, novamente medição do Ibope. Surpresas sempre podem acontecer, mas faltam sinais de tamanha movimentação. Não parece precipitado afirmar que o principal recado das urnas de 2016 já foi dado, e agora será confirmado. O eleitor quis dar um bico no PT e na esquerda em geral. Missão cumprida, voltou a seus afazeres, que a vida está dura.
Outra previsão razoável é que o pós-eleição terá choro e ranger de dentes.
Choro porque não há dinheiro nem para uma fração modesta do que foi prometido em campanha. Símbolo maior da temporada que premiou “gestores” e castigou “políticos”, João Doria (PSDB) inaugurou os trabalhos da transição batendo à porta do governo federal. O prefeito eleito de São Paulo pede a bagatela de R$ 550 milhões para inteirar a conta do subsídio ao transporte público em 2017, de modo a honrar o anúncio do congelamento da tarifa de ônibus, que fez sem consultar ninguém. Cadê o Estado mínimo?
O ranger de dentes será a herança maldita da agressividade que marcou este segundo turno, como atestam debates já realizados no Rio e em BH. Quem se elege estraçalhando a jugular do adversário costuma ter problemas quando a propaganda dá lugar à realidade. Dilma Rousseff que o diga.
Memória da urna: em 2012, cinco capitais reconduziram o prefeito ou elegeram o candidato por ele indicado. Neste ano, apesar de recessão, impeachment e da memória das manifestações de 2013 ainda fresca, pelo menos 13 terão prefeitos reeleitos ou que fizeram o sucessor.





















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