Renata Lo Prete:O Globo
Dizem os manuais que o segundo turno é outra eleição. Não desta vez. A
maioria dos grandes municípios chega ao fim da campanha sem as
reviravoltas que o bombardeio de propaganda em doses iguais tem
potencial para provocar.
Em apenas cinco capitais o segundo colocado em 2 de outubro aparece hoje
numericamente à frente nas pesquisas: BH, Curitiba, Belém, São Luís e
Aracaju. E nas cinco a disputa continua acirrada, impedindo que se crave
a inversão como definitiva. Nas demais 13 que ainda escolherão
prefeito, é como se o eleitor, fatigado, tivesse desistido do espetáculo
e entrado em hibernação durante quatro semanas. Tudo está como no
início do mês.
Isso inclui o elevado patamar de “não voto” (soma de brancos, nulos e
abstenções) em algumas praças. No Rio, ele equivale à intenção de voto
em Marcelo Freixo (PSOL), de acordo com o Ibope mais recente. Em Porto
Alegre, o jingle “Anula Lá”, sucesso nas redes, virou hino de parcela do
eleitorado vermelho decidida a não validar, nem mesmo pelo mecanismo
clássico da rejeição ao “mal maior”, um mano a mano exclusivamente azul.
No primeiro turno, o brasileiro optou em cima da hora — mais de 30% na
última semana, novamente medição do Ibope. Surpresas sempre podem
acontecer, mas faltam sinais de tamanha movimentação. Não parece
precipitado afirmar que o principal recado das urnas de 2016 já foi
dado, e agora será confirmado. O eleitor quis dar um bico no PT e na
esquerda em geral. Missão cumprida, voltou a seus afazeres, que a vida
está dura.
Outra previsão razoável é que o pós-eleição terá choro e ranger de dentes.
Choro porque não há dinheiro nem para uma fração modesta do que foi
prometido em campanha. Símbolo maior da temporada que premiou “gestores”
e castigou “políticos”, João Doria (PSDB) inaugurou os trabalhos da
transição batendo à porta do governo federal. O prefeito eleito de São
Paulo pede a bagatela de R$ 550 milhões para inteirar a conta do
subsídio ao transporte público em 2017, de modo a honrar o anúncio do
congelamento da tarifa de ônibus, que fez sem consultar ninguém. Cadê o
Estado mínimo?
O ranger de dentes será a herança maldita da agressividade que marcou
este segundo turno, como atestam debates já realizados no Rio e em BH.
Quem se elege estraçalhando a jugular do adversário costuma ter
problemas quando a propaganda dá lugar à realidade. Dilma Rousseff que o
diga.
Memória da urna: em 2012, cinco capitais reconduziram o prefeito ou
elegeram o candidato por ele indicado. Neste ano, apesar de recessão,
impeachment e da memória das manifestações de 2013 ainda fresca, pelo
menos 13 terão prefeitos reeleitos ou que fizeram o sucessor.
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