Gaudência Torquato:Com Blog do Noblat - O Globo
Onde estão as bandeiras da esquerda? O que pode ser ainda eixo do
discurso da esquerda no Brasil? Depois da estrondosa derrota do PT e da
pequena movimentação que eleva em alguns pontos a posição do PSOL no
espectro ideológico, torna-se bastante difícil enxergar colheitas
vermelhas (identificadas nas roças da esquerda) no território. É claro
que não se pode afirmar que a cor vermelha se apagará na paisagem, eis
que grupamentos como MST, CUT, MTST e outros minúsculos enclaves ainda
se vestirão com o manto cor de sangue. Mas as bandeiras da esquerda, no
sentido do discurso, estas, sim, passarão um bom tempo esquecidas no
baú.
Nesses tempos de alta tensão política, com o desdobramento do processo
de investigação pela Operação Lava Jato, a preocupação central dos
atores políticos é a de sobreviver aos sobressaltos. Se os inputs
ideológicos sofrem refluxo na esteira das crises econômicas que têm
abalado as Nações, imagine-se o que se infere sobre a esquerda
brasileira quando sua fortaleza avançada – o PT – é derrubada por
bombardeios devastadores. E mais: quando o país ingressa na maior
recessão de sua história. Desde os tempos do mensalão, o Partido dos
Trabalhadores tem sido considerado o eixo central da engrenagem de
corrupção que consome os recursos do Estado. Logo, seu discurso de
“esquerda” deixou de receber endosso. Passou a ser mentiroso.
O DISCURSO
DE ESQUERDA
Afinal, o que seria de esquerda para os ideólogos petistas? Dar ao
Estado uma conformação paquidérmica; locupletar a máquina administrativa
com milhões de militantes; fechar as empresas do Estado para qualquer
iniciativa que implique abertura de programas e compartilhamento de
ações com a iniciativa privada; e promover uma gastança sem fim, na
crença de que os recursos do Tesouro são infinitos. Por aí se mede o
tamanho do legado esquerdista que o arquipélago petista gostaria de
imprimir ao país. O fato é que nem aqui nem alhures a esquerda consegue
expandir seu roçado. Ao contrário, o que tem ocorrido é uma ligeira
inclinação à direita, sob o empuxo de forças do mercado, que tentam
buscar alternativas para os gargalos das economias em todos os recantos.
É evidente que o Estado deverá continuar a deter seu papel de controle e
intervenção quando as crises assim o exigirem. Isso foi o que aconteceu
na crise de 2008, quando a maior democracia ocidental, os Estados
Unidos, se obrigou a intervir no mercado e a controlar os rumos da
economia. Mas o fato é que o Estado não tem cumprido suas tarefas e
funções, ante a inexorável pressão de populações desassistidas e
carentes. Os serviços públicos têm entrado em situação de penúria. Os
equipamentos das estruturas de saúde, educação e mobilidade são
precários e defasados. Ante as demandas crescentes, por parte de
conjuntos cada vez mais críticos e exigentes, o Estado só tem uma
alternativa: repartir suas funções com a iniciativa privada.
Essa é a radiografia que remanescentes da ortodoxa esquerda não querem
enxergar. Por isso, abrem suas tubas de ressonância para deflagrar
campanhas negativas contra gestores e representantes que pregam o avanço
e jogam suas fichas no tabuleiro da modernidade. O presidente Macri, na
Argentina, tenta viabilizar uma administração voltada para salvar a
economia do país. Por aqui, é visível o esforço do governo Temer para
tirar o país do buraco mais fundo de sua história econômica. A economia é
o foco da administração. Azeitada, a locomotiva econômica puxará os
carros do trem para os trilhos, garantindo recursos para pagar os
aposentados, expandindo o mercado de trabalho, consolidando os eixos da
educação de qualidade, garantindo investimentos na infraestrutura.
O DISCURSO DO AVANÇO
Na maior metrópole do país, São Paulo, o prefeito eleito, João Doria,
promete agir sob o mesmo espírito de modernização das estruturas.
Teremos uma máquina menor, mais funcional, mais ágil, tocada por quadros
qualificados. Em muitos municípios, entre os 5.668, o discurso de
avanços poderá dar o tom do novo ciclo político-administrativo que se
inicia. Não há mais condições para que velhas práticas da administração e
da política continuem a ser usadas. Daí a necessidade de um choque de
cultura. Os grupos que agem no entorno do Estado precisam mudar
comportamentos. As Centrais Sindicais constituem um exemplo. Parecem
arremedos do sindicalismo de proveta.
Lutam para receber contribuições cada vez mais gordas do sistema
confederativo. E usam recursos para aumentar ricos patrimônios com
imóveis e instalações suntuosas.
Os partidos políticos, por sua vez, haverão de ganhar escopos
conceituais, de forma a criar e a preservar uma identidade. Não são
necessários mais que 10 a 15 partidos.
Cláusulas de desempenho – votação acima de um teto em um determinado
grupo de Estados - condicionarão sua existência. Sua participação nas
administrações se faz necessária, até porque a meta de um partido é
alcançar o poder. Mas os entes devem fazer indicações meritórias,
quadros preparados e tecnicamente capacitados para exercer os cargos. A
responsabilidade no campo da administração pública se fará absolutamente
necessária. De forma que serviços malfeitos, desleixo, apatia,
desorganização, falta de zelo por parte dos gestores implicará seu
imediato afastamento das estruturas públicas nos três níveis da
administração – União, Estados e Municípios.
Transparência e controle – eis dois valores que haverão de ganhar força
nos próximos tempos. A abertura dos canais da administração dará clareza
aos contratos, propiciando disputas ordenadas por critérios de justiça.
Controlar o fluxo e o cronograma de obras será fundamental para dar
eficiência à administração pública, ao mesmo tempo em que aumentará o
grau de confiança dos cidadãos em seus gestores.
Não há como inserir a tecla da “esquerda” nessa planilha de conceitos e
valores. Por isso mesmo, sugere-se aos retardatários que ainda não
chegaram ao século XXI, que despertem de seus sonhos. Parecem ter
adormecido antes da queda do Muro de Berlim e ainda não despertaram.
Abram os olhos antes que sejam jogados no monturo das coisas rotas e sem
uso.
extraídaderota2014blogspot
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