João Domingos:O Estado de São Paulo
Mas se a situação política nunca esteve tão favorável a esses três
partidos, ela também nunca esteve tão incerta. Não só pela indefinição
quanto a nomes, qual legenda encabeçará a chapa que vai disputar a
eleição presidencial em 2018, se vão unir forças ou se vão se dividir.
Mas também, e principalmente, porque não é possível dizer se quem está
de pé hoje num desses partidos não estará abatido politicamente amanhã.
Porque se a situação já era confusa por causa das investigações da
Operação Lava Jato, que a todo instante ameaçam bater à porta de algum
governista importante, agora com a prisão do ex-presidente da Câmara
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é que ficou esquisita.
A possibilidade de Cunha vir a fazer um acordo de delação premiada
assusta. E se assusta é porque alguém deve. E, desde que a Lava Jato foi
aberta, todos os que devem têm motivos para temer.
Pela posição que ocupou no PMDB e na Câmara, de líder do partido e
presidente da Casa, a partir da montagem de uma base de apoio pessoal, e
para a qual destinou dinheiro para gastos em eleição, como ele mesmo
costumava dizer para quem quisesse ouvir, Cunha é o delator objeto de
desejo de qualquer força-tarefa que participe de uma investigação. Ele
sabia tudo de nomeações para estatais, liberação de verbas
orçamentárias, emendas a projetos de lei e a medidas provisórias.
Se a delação do ex-líder do governo Delcídio Amaral causou tantos
estragos, e continua causando, imagine a de Cunha, se for feita. Ele
estava muito mais enfronhado e antenado em todo tipo de coisa que
acontecia no Congresso e no governo do que Delcídio Amaral, disso não
resta nenhuma dúvida.
Portanto, não é exagerado repetir que quem hoje está de pé no
triunvirato de partidos que decide as coisas no governo amanhã pode não
estar mais. É por isso mesmo que a apreensão é tão grande no Congresso e
no governo.
Em termos comparativos, uma eventual delação de Eduardo Cunha terá maior
poder de explosão do que as dos ex-diretores da Petrobrás Paulo Roberto
Costa e Nestor Cerveró, do ex-gerente Pedro Barusco, e de tantos
outros.
Talvez uma delação de Eduardo Cunha só encontre rival em revelações que
venham a ser feitas pelo empresário Marcelo Odebrecht. Mas este tratava
de questões relacionadas com o funcionamento de sua empresa, embora com
gente de todos os partidos. Cunha falava com gente de todos os partidos,
empresários, governo central e estaduais e trabalhava também a
elaboração de leis e emendas a elas.
As seguidas delações que já foram feitas até agora praticamente
destruíram o PT e puseram nele um carimbo de corrupto. O primeiro
resultado apareceu na eleição municipal, quando o partido só não foi
varrido dos mapas eleitorais porque venceu em Rio Branco, onde está no
poder há mais de uma década, e em pequenas cidades. O segundo turno vai
completar o estrago, a se observar as pesquisas eleitorais feitas até
agora.
Dependendo do que Cunha vier a dizer, como tem ameaçado fazer, de
repente PMDB, PSDB e, talvez, o DEM, venham a ficar na mesma situação do
PT. Sem contar o que poderá ser dito também por Marcelo Odebrecht.
No momento, a alternativa para o presidente Michel Temer é correr para
aprovar as reformas fiscais e aproveitar a base de 414 deputados que ele
tem na Câmara, a maior desde a redemocratização, como costuma dizer o
ministro Eliseu Padilha (Casa Civil). Daqui uns dias, quem sabe o que
sobrará?
extraídaderota2014blogspot
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