Dora Kramer: O Estado de São Paulo
Eduardo Cunha não foi o primeiro nem será o último político de destaque a
ser preso pela operação Lava Jato. Sequer pode ser apontado como aquele
que maior poder e/ou volume de informações reuniu na República. As
presenças de José Dirceu e Antônio Palocci em Curitiba - chefões da era
em que o PT mandava (e principalmente desmandava) no País - dão por si
tal testemunho.
Pode ser que ele venha a fazer uma delação devastadora que comprometa do
baronato ao cardinalato da política? Pode ser que haja vida em Marte.
No terreno das possibilidades criam-se, entre outras coisas, fantasmas.
Tudo é possível embora nem tudo seja provável. Para dirimir quaisquer
dúvidas, o melhor método é o exame das condições objetivas.
A principal delas esteve registrada no placar eletrônico da Câmara no
dia 12 de setembro último, quando o então deputado afastado de suas
funções legislativas pelo Supremo Tribunal Federal teve o mandato
cassado por 450 votos a favor e 10 contra.
No início, quando o processo foi aberto no Conselho de Ética, a
avaliação preponderante era a de que Eduardo Cunha sairia ileso. Segundo
essa versão, teria poderes ilimitados para impedir o andamento dos
trabalhos e um embornal de informações a respeito de seus pares tóxico o
suficiente para garantir votos a favor da manutenção de seu mandato.
No campo da suposição, isso parecia fazer sentido. Mas a realidade tem
componentes menos esquemáticos. No caso, a opinião pública, a revelação
de novas e cada vez mais contundentes acusações, o comportamento
excessivamente ousado de Cunha, a decisão do STF de afastá-lo do cargo, a
impossibilidade de contar com ajuda do governo, o instinto de
sobrevivência eleitoral dos deputados, uma série de fatores que
desmontou a presunção inicial e produziu um resultado surpreendentemente
desfavorável a ele.
A prisão menos de quarenta dias depois provocou alvoroço, não obstante
fosse algo esperado, líquido e certo. Fez-se o silêncio em Brasília.
Pudera, dizer o quê? Lamentar, comemorar? O governo e mundo político em
geral não poderiam fazer uma coisa nem outra. Até o PT se manteve
discreto, dada sua impossibilidade de falar de corda em casa de
enforcado.
Enquanto na capital federal a palavra de ordem era não passar recibo, no
restante do País estabeleceu-se a gritaria em torno dos presumidos
efeitos de uma delação premiada. Por ora apenas um fantasma nessa ópera
composta pela operação Lava Jato. Não que seja um equívoco supor que
Cunha faça delação e provoque com ela uma devastação em massa. Mas é
preciso medir e pesar as circunstâncias. E estas não lhe são
necessariamente favoráveis.
Não é ele quem dita as regras muito menos o rumo dos acontecimentos
como, de resto, já ficou demonstrado. A faca e o queijo estão nas mãos
do Ministério Público e da Justiça. Ainda que o ex-deputado tenha
disposição de delatar não significa que os procuradores se interessem
pela contrapartida ou que as condições estabelecidas em lei para a
obtenção de benefícios se apliquem a Eduardo Cunha.
A força tarefa da Lava Jato trabalha há mais de dois anos, período em
que reuniu uma montanha de informações a respeito das quais seguramente o
País ainda não sabe da missa a metade. De onde é possível que o
ex-deputado não tenha dados que os investigadores considerem novos e/ou
necessários ao esclarecimento dos fatos. Se não pôde controlar seu
destino quando presidente da Câmara nem se utilizar do arsenal
intimidador de maneira eficiente, não será preso que Eduardo Cunha terá
êxito no manejo da figura de assombração.
Ademais, terá de ter muito cuidado com o que disser para não piorar sua já sofrível situação.
extraídadeavarandablogspot
0 comments:
Postar um comentário