Laryssa Borges, Hugo Marques e João Pedroso de Campos - Veja
Os novos laudos anexados pela Operação Lava Jato ao inquérito que
investiga a compra do sítio usado pelo ex-presidente Lula em Atibaia
revelam uma intrincada teia de operações financeiras entre empresas
registradas em nome dos filhos do petista e de seus sócios. As
informações levantadas pelos peritos federais a partir da quebra de
sigilo bancário dos investigados servirão para subsidiar as conclusões
da Polícia Federal, que em breve deverá indiciar pela quarta vez o
ex-presidente. O que foi levantado reforça a suspeita de que o sítio foi
comprado e reformado com dinheiro de origem suspeita. Em um dos laudos,
os peritos concluem que, embora apareçam como compradores da
propriedade, os empresários Jonas Suassuna e Fernando Bittar, sócios do
primogênito de Lula, não custearam sua reforma – os investigadores têm
indícios de que as obras foram pagas por empreiteiras do petrolão, como a
OAS. Os peritos lançam suspeitas, também, sobre outros imóveis usados
pela família Lula da Silva. A seguir, algumas das conclusões dos
documentos anexados nesta quinta-feira ao inquérito que tramita na
Justiça Federal do Paraná.
Uma movimentação quase bilionária – Com
atuação em diferentes áreas – de tecnologia a imóveis, de edição de
livros à produção de discos – as empresas de Jonas Suassuna, sócio de
Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, registraram o recebimento de 750
milhões de reais entre os anos de 2004 e 2016. A informação consta de
laudos anexados nesta quinta-feira pela Polícia Federal ao inquérito que
investiga a compra do sítio frequentado pelo ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Jonas Suassuna aparece formalmente como um dos donos do
sítio, ao lado de Fernando Bittar, outro sócio dele e de Lulinha.
Entre as principais pagadoras do conglomerado de Suassuna aparecem a
companhia de telefonia Oi e outras controladas pela Andrade Gutierrez –
foram 76 milhões de reais no período, distribuídos entre várias firmas
de Suassuna. A Oi, antiga Telemar, é sócia da Gamecorp, uma das empresas
de Lulinha – de acordo com os registros oficiais, a companhia pagava
por serviços prestados por Suassuna. Chama atenção que uma parte
significativa dos valores que entravam nas contas da empresa seguia para
as contas de pessoa física de Jonas Suassuna. E o empresário, ao mesmo
tempo em que recebia os milhões, investia uma parcela do dinheiro em
imóveis para usufruto da família Lula da Silva, como o sítio de Atibaia e
o apartamento de luxo ocupado por Lulinha em uma das áreas mais nobres
da capital paulista. O filho mais velho do ex-presidente sempre alegou
que pagava aluguel a Suassuna, mas as investigações, mais uma vez,
desconstroem o argumento, como se verá a seguir.
O aluguel de fachada – Primogênito
do ex-presidente, Fabio Luis Lula da Silva, o Lulinha, mora no
confortável apartamento 231 da Avenida Juriti, 73, em São Paulo. O
imóvel é avaliado em 6 milhões de reais e, mobiliado, tem aluguel
estimado de 40.000 reais mensais. Mas Lulinha, que era monitor de um
zoológico até ascender de forma nebulosa no mundo empresarial, mora
praticamente de favor no imóvel, que pertence a seu sócio, Jonas
Suassuna Filho. Ele repassou eventualmente entre maio de 2014 e
fevereiro de 2016 mensalidades de 15.000 reais a Jonas, mas
investigadores da Operação Lava Jato não acreditam se tratar de um
aluguel a preços camaradas. “Essas transferências não contemplam todos
os meses do período de maio de 2014 fevereiro de 2016, assim como seriam
em valor inferior à estimativa realizada pelo fisco federal para valor
do aluguel do imóvel”, diz um laudo da Polícia Federal que analisou a
movimentação financeira e a evolução patrimonial de Lulinha de 2004 a
2014. Detalhe: não há qualquer registro de que o apartamento tenha sido
alugado a Lulinha.
O caso não é único na família. O mesmo se repete com o filho caçula do
ex-presidente, Luis Cláudio, que mora no bairro dos Jardins em um
apartamento em nome da empresa Mito Participações, que tem como cotistas
a mulher e as filhas de Roberto Teixeira, advogado e compadre de Lula.
Antes de ser comprado por Teixeira e ocupado por Luís Cláudio, o
apartamento pertencia a uma empresa sediada em paraíso fiscal.
O patrimônio a descoberto do caçula de Lula – Exames
econômico-financeiros feitos nas contas de Luis Claudio Lula da Silva,
que recentemente foi anunciado como o mais novo contratado de um clube
de futebol uruguaio, mostram “movimentação bancária incompatível” do
filho caçula do ex-presidente Lula. A Polícia Federal analisou dados
bancários de 2011 a 2014 e concluiu que a variação patrimonial do filho
do petista é incompatível com seus rendimentos. Apenas em 2013, o
patrimônio a descoberto ultrapassa os 200.000 reais, em grande parte por
conta de valores astronômicos gastos no cartão de crédito. Em apenas um
dia, Luis Claudio chegou a gastar mais de 50.000 reais no cartão. No
dia 3 de junho de 2013, Luís Claudio fez duas compras com seu cartão de
crédito da Agência Prime do Bradesco de São Bernardo do Campo que
somaram 56.199 reais. No dia 1º de julho, as duas compras no cartão de
crédito somaram 31.816 reais. Um mês depois, duas novas compras no
cartão de crédito somaram 36.572 reais.
“A evolução patrimonial a descoberto (falta de recursos) atinge valores
superiores a 200 mil reais, quantia essa significativa frente à posição
patrimonial do investigado”, destaca a perícia.
Dos cerca de 1,43 milhão de reais em rendimentos brutos de Luis Claudio
mapeados pela PF entre 2011 e 2014, 246.000 reais foram distribuição de
lucros e dividendos da LILS Palestras, mesmo ele não tendo qualquer
participação societária na empresa do pai, e 780.000 reais foram
oriundos da LFT Marketing, empresa que recebeu 2,4 milhões de reais de
lobistas investigados na Operação Zelotes por suspeitas de pagar
propina.
Os ‘donos’ do sítio não pagaram pela reforma da propriedade – Jonas
Suassuna, sócio de Lulinha e um dos donos oficiais do sítio em Atibaia
que o ex-presidente Lula insiste em dizer que não é seu, não declarou ao
Fisco nenhuma das benfeitorias que realizou na propriedade. A conclusão
é da Polícia Federal, que analisou dados bancários do empresário em
investigação da Operação Lava Jato. Conforme revelaram delatores do
petrolão, as melhorias na propriedade, feitas para garantir mais
conforto a Lula, foram pagas com dinheiro de empreiteiras investigadas e
seriam uma forma de quitar favores que as empresas deviam ao petista.
Laudo da PF destaca, por exemplo, que apesar de Jonas ter lastro
financeiro para comprar o imóvel e o reformar como bem entendesse, ele
não declarou, por exemplo, 215.322 reais em benfeitorias e nem há
qualquer sinal de movimentação bancária dele para justificar que o
pagamento tenha saído de seu bolso. Ao cruzar os dados, a Polícia
concluiu que o empresário tem um “padrão elevado de despesas não
declaradas” – mais de 400.000 reais mensais.
O outro dono formal do sítio de Atibaia, o empresário Fernando Bittar
também não declarou as reformas feita no sítio Santa Bárbara, no valor
de 1 milhão de reais. Segundo a PF, Bittar não possuía lastro
patrimonial para a realização das obras. A única benfeitoria no sítio
declarada por ele foi a aquisição de um gerador de energia por 51.710
reais, em 2011. A PF encontrou divergências entre a movimentação
financeira e os rendimentos declarados por Bittar. Na lista de
incompatibilidades está a movimentação financeira de Bittar a partir de
créditos recebidos da Gamecorp, empresa da qual é sócio junto com
Lulinha. A movimentação financeira de Bittar apresenta créditos da
Gamecorp no valor de 342.000 reais, enquanto ele e a empresa declaram
417.000 reais.
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