editorial do Estadão
Não demorou muito a reação do PT à prisão do dono da Odebrecht, bom
amigo de Lula. Depois de Rui Falcão ter recebido instruções precisas do
ex-presidente, a Executiva petista reuniu-se na quinta-feira em São
Paulo e aprovou uma resolução. Nela, o Partido dos Trabalhadores faz a
defesa das empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobrás, sob o
falacioso argumento de que as prisões “sem fundamento” da Operação Lava
Jato são “arbitrárias” e o “prejulgamento” das construtoras terá
consequências negativas para a economia nacional, com a paralisia de
obras de infraestrutura e consequente aumento do desemprego.
Para obedecer ao chefe, a direção do PT finge ignorar que as
“consequências para a economia nacional” já são uma amarga realidade,
principalmente no que diz respeito à taxa crescente de desemprego. E
isso não por culpa da Lava Jato, e sim da incompetência e
irresponsabilidade do governo petista. A grande maioria, 65% dos
brasileiros, concorda com isso, como revelam as pesquisas.
À suspeita de que tem sido beneficiado pela generosidade de prósperos
empreiteiros cuja amizade conquistou quando estava na Presidência –
exemplo notório de Marcelo Odebrecht –, Lula e seus defensores respondem
que hoje ele é apenas um cidadão comum, ex-presidente da República que
tem importantes e bem-sucedidas experiências políticas e sociais a
transmitir aos interessados e por isso aceita ser pago por quem se
dispõe a patrocinar suas palestras mundo afora. É apenas trabalho que
não tem nada a ver com o governo. Exatamente como acontece, por exemplo,
com ex-presidentes americanos.São argumentos falaciosos, como demonstra
essa última resolução do PT em defesa das empreiteiras. Lula não é um
cidadão comum – logo quem! –, mas um político muito ativo que tem forte
influência no governo e no partido que o sustenta. Tornou-se lobista.
Afinal, seus bons amigos empreiteiros não são generosos mecenas
interessados em disseminar ideias progressistas pelo mundo, mas
negociantes que sabem muito bem onde vale a pena colocar seu dinheiro. É
óbvio, portanto, que, ao alinhar o PT na defesa das empreiteiras
envolvidas até o pescoço no propinoduto da Petrobrás, Lula está
preocupado apenas em manter a fidelidade das relações mútuas com os bons
amigos que tem no mundo dos negócios.
O combate à corrupção, sintomaticamente, nunca foi tema relevante no
discurso do dono do PT, ao contrário do que acontece com Dilma Rousseff,
que não perde oportunidade para proclamar sua “luta sem tréguas” contra
os malfeitos na vida pública. E o PT, por sua vez, é useiro e vezeiro
em gabar-se de que nunca antes tanta “gente importante” foi parar na
cadeia. É propaganda enganosa. Observe-se que recentes manifestações de
Lula, obviamente entre quatro paredes, contradizem o discurso de Dilma e
do PT. O ex-presidente tem feito pesadas críticas ao ministro da
Justiça a respeito das investigações da Lava Jato, reclamando de que
José Eduardo Cardozo “perdeu o controle” sobre a Polícia Federal (PF), a
ele subordinada. Seria o caso de inferir dessas declarações que, se
Lula ainda fosse presidente, aos policiais federais e aos procuradores
da República já teria sido ordenado que cuidassem da própria vida ou
investigassem a oposição?
O juiz Sergio Moro, cujo rigor na coordenação da Lava Jato incomoda quem
tem culpa no cartório, tornou-se alvo da mesma campanha de satanização
que Lula e o PT conduziram contra o ministro Joaquim Barbosa no episódio
do mensalão. A resolução petista de quinta-feira não cita nomes, mas
pega pesado: “Se as prisões preventivas sem fundamento se prolongarem
(...), não é a corrupção que está sendo extirpada. É um estado de
exceção sendo gestado”. E, para não perder a oportunidade, os petistas
protestaram também, mais uma vez, contra a prisão “inaceitável” de seu
ex-tesoureiro João Vaccari Neto, personagem que aparentemente tem muito a
dizer, a julgar pelo enorme empenho do partido em reverenciá-lo.
O tom das críticas do PT à Operação Lava Jato mostra a crescente
preocupação de Lula com investigações que se aproximam dos agentes
políticos. É por isso que o ex-presidente decidiu tomar “providências”,
acusando o governo Dilma de negligência e açulando o PT contra o juiz
Sergio Moro e tudo o que possa representar uma ameaça ao seu direito de
ir e vir.
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