editorial de O Globo
Há muitos recursos pela frente que podem ser acionados, mas a primeira condenação de empreiteiros reforça a imagem do Judiciário e o espírito republicano
A condenação dos primeiros empreiteiros na Operação Lava-Jato é um
marco. Assim, quebra-se uma longa tradição brasileira — pelo menos até
onde vai a memória — de corruptores escaparem da Justiça.
O veredicto condenatório por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e
organização criminosa, lavrado pelo juiz Sérgio Moro, pune com penas de 9
anos e meio e 15 anos e dez meses Dalton Avancini, Eduardo Leite e João
Ricardo Auler, presidente, vice-presidente e presidente do conselho de
administração, já fora dos cargos, da Camargo Correa. Esta, uma das
empreiteiras de grande porte envolvidas no esquema lulopetista de
corrupção montado na Petrobras, o petrolão.
No mesmo dia, segunda-feira, a Polícia Federal indiciou o maior
empreiteiro do país, Marcelo Odebrecht — preso em regime preventivo em
Curitiba, base da Lava-Jato e de Moro —, por fraude em licitação,
corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro e formação de cartel.
Junto com ele, outros executivos da Odebrecht.
É possível colocar no mesmo contexto de fortalecimento das instituições
republicanas no Brasil vários eventos: a cassação de Fernando Collor, em
que o Congresso, pela primeira vez na República, afastou um presidente
sem atalhos golpistas — tanto que, no plano jurídico, ele foi absolvido
no Supremo; o julgamento no Supremo do processo do mensalão, pelo qual a
cúpula do partido no poder foi trancafiada; e, agora, na primeira
instância na Justiça federal do Paraná, a condenação como corruptores de
executivos de uma grande empreiteira. E ainda o indiciamento pela PF,
outro organismo de Estado, de Marcelo Odebrecht e colegas de trabalho.
Há ainda muito por acontecer, recursos a serem impetrados, na tentativa
legítima de rever decisões da primeira instância. O importante é o
absoluto respeito ao devido processo legal, sem tratamentos
privilegiados a políticos e empresários, sejam quais forem partidos e
sobrenomes.
Até mesmo o ex-presidente Lula, nos últimos 30 anos ocupante na política
nacional do lugar reservado a líderes populistas, está sob o escrutínio
do Ministério Público federal do DF, devido a relações próximas com a
Odebrecht. Investigam-se indícios de que Lula teria trabalhado como
lobista para a empreiteira — no exterior, usando sua capacidade de abrir
portas na África e América Latina; internamente, fazendo o mesmo no
BNDES.
É assim, com demonstrações da impessoalidade com que o poder público tem
de atuar, que o estado democrático de direito fortalece a musculatura. E
haverá, no petrolão, ainda muitas oportunidades para as instituições
exercitarem a maturidade, pois o MP federal ainda precisa encaminhar
pedidos de abertura de inquérito para investigar autoridades com foros
privilegiados, o STF e o STJ.
extraídaderota2014blogspot
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