por Dora Kramer O ESTADO DE SÃO PAULO
O PT, Lula e companhia quando estão por baixo oferecem aos adversários a
mão que afaga; se dão a volta por cima, entra de novo em cena a mão que
os apedreja.
Ao longo dos anos, o PSDB teve pesadas provas dessa dinâmica e,
provavelmente em decorrência da lição, é que recebeu com prudente
reserva a ideia que passou a circular recentemente entre petistas e no
governo sobre a abertura de um espaço de entendimento com os tucanos
para tratar do arrefecimento da crise política, tendo como interlocutor
principal o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Ministros se manifestaram a favor, informando que a presidente Dilma
Rousseff gostaria de participar. A sugestão em tese razoável, na prática
recende a marotagem. O histórico dos petistas no quesito entendimentos
não recomenda confiança, não há pauta específica nem igualdade de
condições na oportunidade.
Lula e Dilma nada teriam de objetivo a tratar com FH, porque nenhum dos
problemas enfrentados pelo governo foi criado pela oposição e, assim, os
tucanos não teriam o poder de resolver coisa alguma. A menos que os
petistas estejam pensando na hipótese (maluca) de se escorar
politicamente no PSDB para contrabalançar a perda de apoio na própria
base e passar um “verniz” na imagem do governo.
Os oposicionistas não morderão essa isca que vem agora denominada de
“agenda superior”. Superior a quê? A questão é posta no ar para
transferir à oposição a responsabilidade de administrar a situação
adversa _ coisa que não é tarefa dela _ e acusá-la de intransigente caso
não aceite tão generosa oferta.
Oferta essa vaga como o “diálogo” prometido pela presidente Dilma
Rousseff em seu discurso na noite em que foi anunciada sua vitória na
reeleição. Com a “mão estendida”, na ocasião a presidente sequer
referiu-se ao oponente Aécio Neves. Em seguida, ela se esqueceu do que
havia se proposto e recolheu-se ao Palácio para arquitetar as medidas
duras que na campanha dizia que a oposição iria adotar se ganhasse a
eleição.
Todas as vezes em que entrou em tratativas com o PT o PSDB saiu
perdendo. A começar pela campanha eleitoral de 2002, quando o então
presidente Fernando Henrique Cardoso firmou um acordo com os principais
candidatos de oposição em torno de um acerto com o FMI sobre o superávit
fiscal, em agosto, e soube do rompimento da trégua pelos jornais no
início de setembro.
Eleito Luiz Inácio da Silva para presidente, FH organizou uma “operação
transição” das mais civilizadas. Estava de certo modo vaidoso de ser
sucedido pelo “operário-presidente”, abriu os dados do governo, fez o
que era sua obrigação, mas tratou o sucessor com especial atenção. Foi
calculadamente elegante na derrota.
Para ouvir no dia na posse de Lula e pelos anos seguintes, que havia
legado ao PT uma “herança maldita” e, ainda assim, ver os novos
ocupantes do poder tomar para si a autoria da estabilidade econômica que
havia sido construída sob o comando dele.
Até que estourou o escândalo do mensalão. O publicitário Duda Mendonça
confessou à CPI dos Correios que havia recebido dinheiro de caixa dois
na campanha de Lula em 2002. Estava dada ali a condição para incluir o
então presidente na denúncia que viria a ser apresentada pelo Ministério
Público.
Não fosse um “diálogo” patrocinado pelo então ministro da Justiça,
Márcio Thomaz Bastos, com a oposição, que optou por pisar no freio. O PT
deu a volta por cima, não se considerou minimamente devedor do
entendimento e impôs três novas derrotas ao PSDB, com requintes de
humilhação.
De onde os tucanos não pretendem insistir no papel de mulher de malandro.
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