editorial da Folha de São Paulo
Marcado para esta quinta-feira (30), o encontro da presidente Dilma
Rousseff (PT) com os governadores de todos os Estados adquiriu
importância ainda maior com a decisão tomada terça-feira (28) pela
agência de classificação de risco Standard & Poor's.
A companhia norte-americana alterou a perspectiva da nota de crédito do
Brasil para negativa, aumentando as chances de o país perder o grau de
investimento. Apenas um andar abaixo está a categoria especulativa, em
que, aos olhos dos credores, é alta a possibilidade de calotes.
Nem mesmo os oposicionistas mais aguerridos deveriam desejar essa cereja
podre no bolo estragado que se tornou a economia no governo Dilma.
Agências como a S&P ficaram desacreditadas depois de 2008, pois não
anteviram a crise que se desenhava nos EUA, mas suas avaliações não
deixaram de interessar a quem procura porto seguro para o próprio
dinheiro.
A expectativa crescente de que o Brasil venha a perder o atestado de bom
pagador já produz efeitos: investidores exigem juros cada vez maiores
para compensar os riscos e o dólar bate recordes de alta.
Tanto pior, já se considera que outras duas companhias, a Moody's e a
Fitch, podem fazer análise semelhante à da S&P, rebaixando a nota
brasileira até o fim do ano.
Combater esse cenário sombrio deveria ser um objetivo de todos os que se
importam com o futuro nacional, mesmo que não deem a mínima para o
destino de Dilma.
Ao expor suas razões, a S&P reconhece mudanças neste segundo mandato
da petista, mas afirma que aumentaram as incertezas na política e na
economia. Diminuí-las, portanto, é um imperativo.
Tudo se resume, no fundo, à instabilidade da relação entre o Executivo e
o Legislativo, agravada pelos desdobramentos da Operação Lava Jato e
traduzida no comportamento pernicioso do Congresso.
Notoriamente incapaz de mobilizar deputados e senadores em torno de uma
agenda positiva, a presidente Dilma Rousseff resolveu pedir ajuda aos
governadores. Espera que eles convençam suas bancadas a rejeitar
projetos que tornem ainda mais penoso o necessário ajuste das contas
públicas.
Se mantido estritamente nesses termos, o encontro pode resultar em algo
proveitoso. Muitas das medidas que ampliam os gastos têm impacto direto
nos cofres estaduais.
Que fique claro: cobrar responsabilidade dos congressistas não significa
aceitar conchavos ou dividir a culpa pelo descalabro atual. Esta cabe
só ao governo Dilma, e a oposição decerto teria muito a perder se fosse
vista como sócia da crise.
O país, contudo, terá ainda mais a perder se não houver renovados
esforços na busca por soluções. Já se sabe quão venenosa pode ser uma
oposição que aposta no lema "quanto pior, melhor". Como atestam as
agências de classificação de risco, quanto pior, pior.
extraídaderota2014blogspot
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