Folha de São Paulo
O jornal britânico "Financial Times" afirma, em editorial, que
incompetência, arrogância e corrupção destruíram a "poção mágica do
Brasil", e que a situação no país foi agravada pelo escândalo de
corrupção na Petrobras.
O texto é intitulado "Recessão e propina: a crescente podridão do Brasil".
Segundo a publicação, a crise que o governo Dilma Rousseff passa cresce
devido a problemas econômicos e à baixa aprovação da petista, além da
corrupção. "Não admira que o Brasil de hoje tenha sido comparado a um
filme de terror sem fim", diz o editorial, em referência à frase do presidente do Senado, Renan Calheiros.
O jornal, porém, avalia que os desdobramentos da Operação Lava
Jato demonstram
"a força das instituições democráticas brasileiras" e que o pior
cenário, "o de um impeachment caótico", pode ser evitado.
Leia o editorial.
Recessão e propina: a crescente podridão do Brasil
Incompetência, arrogância e corrupção destruíram a poção mágica do
Brasil. Combinadas ao final do boom das commodities, elas arremessaram a
oitava maior economia do planeta a uma recessão cada vez mais profunda.
O escândalo de corrupção que continua a ser deslindado na Petrobras só
agrava a putrefação. Mais de 50 políticos e dezenas de empresários estão sob investigação por propinas em valor de US$ 2,1 bilhões.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi indiciado,
sob acusação de tráfico de influência. Há cada vez mais rumores sobre
um possível impeachment da presidente Dilma Rousseff, cujo segundo
mandato começou há sete meses. Isso ainda parece improvável, mas a
probabilidade cresce a cada dia.
Duas forças principais forçam a escalada da crise.
A primeira é a condução da economia por Rousseff. Para seu crédito, ela
abandonou a fracassada "nova matriz econômica", propelida pelo Estado,
de seu primeiro mandato. As taxas de juros subiram para segurar a
inflação. Seu ministro da Fazenda linha dura está buscando conter os
gastos. Esses corretivos necessários porém dolorosos resultaram em queda
dos salários reais, prejudicaram o emprego e abalaram a confiança das
empresas.
Também demoliram os índices de aprovação a Rousseff, agora os mais baixos já registrados.
Isso enfraqueceu ainda mais o controle da presidente sobre seus
parceiros de coalizão, de cujo apoio ela necessita para aprovar as
medidas de austeridade no Legislativo.
CORRUPÇÃO
O maior motivo, porém, é o escândalo de corrupção. Ainda que tenha sido
presidente do conselho da Petrobras entre 2003 e 2010, pouca gente
acredita que Rousseff seja pessoalmente corrupta. No entanto, isso não
significa que ela esteja segura. Rousseff enfrenta acusações de que sua
administração violou as leis de financiamento de campanhas eleitorais e
manipulou as contas do governo; qualquer das duas coisas pode bastar
para um impeachment.
Até agora, os políticos em Brasília vêm preferindo que Rousseff
permaneça no poder, e arque com a culpa pelos problemas do país. Mas a
conta pode mudar à medida que eles lutam por salvar suas peles.
Um grande alerta surgiu na semana passada, quando o presidente da Câmara aderiu à oposição depois
de ser acusado no inquérito da Petrobras, alegando que isso era uma
caça às bruxas pelo governo. Seria ainda pior em caso de processo contra
Lula. Isso aprofundaria a cisão entre ele e Rousseff, sua antiga
protegida, e poderia resultar em mais ímpeto para o impeachment.
Não admira que o Brasil de hoje tenha sido comparado a um filme de terror sem fim. Mas há muito de bom emergindo.
INSTITUIÇÕES FORTES
O zelo do inquérito sobre a Petrobras demonstra a força das instituições
democráticas brasileiras. Em um país no qual os poderosos se consideram
acima da lei, Marcelo Odebrecht, presidente da maior empreiteira do
Brasil, está preso. Esta semana, três executivos da Camargo Corrêa, outra empreiteira, foram sentenciados a mais de 10 anos de prisão.
Promotores públicos de Portugal e de diversos países latino-americanos agora estão investigando contratos internacionais da Odebrecht.
A companhia nega quaisquer delitos, mas tem uma subsidiária em Nova York
e emitia títulos no mercado dos Estados Unidos, e por isso pode
enfrentar um processo judicial norte-americano. Muitas outras companhias
latino-americanas presumivelmente podem enfrentar problemas judiciais
semelhantes, dados os bilhões em títulos denominados em dólares que
emitiram.
Os investidores vinham se preocupando com essa exposição principalmente
por conta da alta do dólar e das taxas de juros norte-americanas. Mas se
a situação atual também levar os políticos e líderes empresariais a
pensarem duas vezes antes de pagar propinas, isso representaria um
grande avanço na luta da região contra a corrupção.
Quanto ao Brasil, Rousseff enfrenta três anos solitários na presidência.
Os brasileiros são pragmáticos, de modo que o pior cenário, o de um
impeachment caótico, pode ser evitado. Mas os mercados já começaram a
incorporar esse risco aos seus preços. Pode bem ser que haja tempos
piores à frente para o Brasil.
extraídaderota2014blogspot
1 comments:
Depois de tanta podridão esperemos que nasça lírios desse lodo que nos enlameia.
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