editorial da Folha de São Paulo
Apesar de seu partido pertencer à base aliada, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
se comporta como adversário do governo Dilma Rousseff (PT) desde o dia
em que se elegeu presidente da Câmara dos Deputados. Derrotou o petista
Arlindo Chinaglia (SP) na disputa pelo comando da Casa e fez da oposição
ao Planalto seu esporte favorito.
Manobrando para aprovar a redução da maioridade penal, defendendo a
liberação obrigatória de verbas para emendas parlamentares ou
propugnando por uma reforma política tirada da cartola, Cunha impôs
seguidos e custosos reveses aos interesses do Executivo.
Embora tenha se situado em campo contrário ao do governo em tantas
questões substantivas, o presidente da Câmara jamais havia chegado ao
extremo de cortar relações. Assim que se sentiu ameaçado pelas
investigações sobre o escândalo de corrupção na Petrobras, porém,
anunciou a ruptura.
O lobista Julio Camargo afirmou à Polícia Federal que, em 2011, pagou
US$ 5 milhões a Eduardo Cunha com vistas a garantir um contrato
bilionário com a estatal.
Valendo-se de um velho truque, com o agravante de utilizar em seu
benefício o peso de uma instituição da República, o peemedebista
procurou afastar as suspeitas dizendo-se vítima de vingança política.
Segundo essa narrativa, o Executivo procurava transferir a crise para o
Congresso; com esse propósito, cuidara para que Rodrigo Janot, chefe do
Ministério Público Federal, obrigasse Camargo a mentir.
"Desminto com veemência as mentiras do delator e o desafio a prová-las",
disse. Nem precisaria: o acordo de colaboração que Camargo fez com as
autoridades só terá validade se, de fato, suas informações puderem ser
comprovadas.
O mesmo raciocínio não se aplica às bravatas de Cunha, o que é uma pena.
Suas acusações são gravíssimas, e qualquer presidente de Poder que
quisesse ser levado a sério só deveria formulá-las com evidências à mão.
Não há sinais de que o deputado fluminense as tenha –e tudo o mais sugere, aliás, que o governo não controla as investigações.
De resto, chafurdando em uma crise econômica e política de profundidade
ainda não de todo conhecida, o Planalto teria muito a perder se
apostasse na instabilidade como boia de salvação.
Em nota de qualidade incomum para os padrões da administração Dilma
Rousseff, o governo disse esperar que a posição do peemedebista "não se
reflita nas decisões e nas ações da presidência da Câmara", pois estas
–nada mais preciso– devem se guiar pela imparcialidade e pela
impessoalidade.
São princípios com os quais Eduardo Cunha, para desolação nacional,
parece não simpatizar. Alegando resgatar a independência do Congresso,
atua antes como agente do caos legislativo, arauto da discórdia
institucional e mensageiro da causa própria.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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