por Aécio Neves Folha de São Paulo
São muitos os problemas da educação brasileira. Falta de planejamento,
inadequação da grade curricular, pouca valorização dos professores,
investimento baixo em pesquisa e outros desafios se acumulam há anos,
sem solução.
Essa precariedade generalizada é fruto da mesma fonte: a incapacidade do
país de tratar a educação como política de Estado prioritária.
Nada mais falacioso do que o slogan "Pátria Educadora", anunciado com
júbilo pela presidente Dilma como âncora de seu segundo mandato, e
solenemente ignorado em sua gestão. Programas como Fies, Pronatec e
Ciência sem Fronteiras sofreram uma degola radical. O Ministério da
Educação foi dos mais atingidos no arrocho fiscal em curso.
É nesse contexto de fragilidade que o país assiste, com assombro, ao
desmonte das universidades públicas brasileiras. Trata-se de uma das
piores crises vividas pelo setor em toda a sua história.
Neste ano, a verba repassada para as universidades federais foi reduzida
em 30%, provocando adiamento de obras, paralisação de cursos e atraso
no pagamento de bolsas.
Grandes universidades como a UFMG, UFRJ ou a UNB, entre outras,
enfrentam graves dificuldades. Milhares de alunos são prejudicados, mas
não apenas eles. O colapso do sistema universitário atinge também o
cidadão ao afetar o atendimento em hospitais universitários, os serviços
de atenção jurídica e uma série de programas voltados para a sociedade.
É também muito grave a situação de órgãos capazes de impactar a
modernização de nossa economia. Instituições de importância estratégica
como o CNPq e a Capes nunca estiveram tão abandonadas.
Denúncias revelam que a Capes cortou 75% da verba de custeio para apoio à
pós-graduação. É como desligar a tomada que nos dá acesso a setores de
ponta do conhecimento. Menos pesquisa, menos inovação, menor
competitividade.
A educação deficiente está na raiz de nossa baixa produtividade. Não há
como competir no mercado global a bordo dos nossos indicadores.
O momento exige responsabilidade e compromisso. Não há milagre capaz de
reverter a presente situação. Bons resultados na Educação não surgem da
noite para o dia, dependem de políticas públicas consistentes e de longo
prazo.
Mas é possível, em curto prazo, fazer mais do que promover cortes
orçamentários destinados a encobrir rombos fiscais provenientes de má
gestão.
Ao escolher um slogan que contraria na realidade, o governo dá mais uma demonstração da opção pelo marketing.
Ao golpear a universidade brasileira, a "Pátria Educadora" atinge o
sonho de milhares de jovens que enxergam na formação superior uma fonte
de qualificação e de ascensão social. Não é justo que façamos isso com
aqueles que irão responder pelo futuro do país.
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