Jornalista Andrade Junior

quarta-feira, 29 de julho de 2015

"A convocação de novas eleições",

por Ruy Fabiano Com Blog do Noblat - O Globo

 A essa altura, com a devassa na Construtora Odebrecht, não parece haver dúvida de que a campanha da presidente Dilma Roussef foi abastecida com propina extraída da Petrobras.

Também não parece haver dúvidas de que houve pedaladas fiscais graves, que configuram infringência à legislação e implicam crime de responsabilidade por parte da presidente da República.

Um só desses fatores já justificaria o impeachment, mas há os dois, cada qual com seu cortejo de danos. As pedaladas fiscais, se levadas à punição máxima pelo Congresso, afastam apenas a presidente e colocam o vice Michel Temer em seu lugar.

A comprovação de que propinas financiaram a campanha de Dilma – e ninguém mais duvida disso – leva ao impeachment da chapa, com anulação das eleições e convocação de novas.

E é exatamente o fato de que há duas hipóteses – e portanto dois caminhos distintos a escolher - que desune a oposição e dá alguma esperança ao governo, que investe nessa divisão.

Maquiavel está à solta em Brasília. Dilma procura lideranças oposicionistas que a preferem fraca no cargo – sangrando, como se diz – a ver-se atropeladas por outro projeto de poder. Nesse raciocínio, alinham-se, entre outros, o governador paulista Geraldo Alckmin e o senador Aloysio Ferreira.

Alckmin quer ser presidente e sabe que, se as eleições fossem agora, perderia a indicação partidária para Aécio Neves, beneficiário do recall das eleições passadas. A Alckmin, conviria mais a ascensão de Michel Temer ou a preservação de Dilma, o que manteria o calendário eleitoral de 2018, dando tempo a que construísse com mais segurança sua candidatura.

Aécio, óbvio, pensa o contrário. Se não aproveitar agora o recall de sua recente candidatura, terá que se submeter a uma desfavorável queda de braço com a seção paulista do PSDB em 2018. Os paulistas têm mágoas de Aécio, a quem acusam de não ter se engajado o suficiente para que o partido derrotasse o PT em 2006 e em 2010, respectivamente com Alckmin e José Serra.

Dilma investe nesse caldeirão de mágoas e ambições contrariadas. Informa-se que quer conversar com Alckmin, Serra e Fernando Henrique. Não se sabe o que pretende propor, até porque, a essa altura, um governo em ruínas nada tem a oferecer.

A economia está em crise aguda e o país corre o risco de perder o grau de investimento. Desemprego, inflação, popularidade em um dígito (7%), aliados na cadeia e uma operação Lava Jato nos calcanhares, a ameaçar a própria presidente e seu tutor, Lula. O que pedir ou oferecer em tais circunstâncias?

Fala-se que a última carta na manga é o apoio ao parlamentarismo, meta programática do PSDB, que possui projeto na Câmara, apresentado por Serra nos anos 90. Ele dispensaria a saída da presidente, na medida em que lhe conferiria papel meramente decorativo, poupando-a de uma saída desonrosa.

Tal saída, porém, pode ser obtida com Michel Temer, o que seria bem mais conveniente para o PSDB, pois o preservaria de acordos com o PT, seu arqui-inimigo. PSDB e PMDB têm origem comum e teriam, em tese, mais facilidade em se compor, em construir uma saída para a crise.

Ocorre que, não obstante as excelências do sistema parlamentarista, o Parlamento que aí está não provoca entusiasmos na opinião pública. E essa crise, diferentemente de outras, tem opinião pública, que a acompanha de perto e não absorverá soluções de conveniência política.

Aguarda-se, para esta etapa da Lava Jato, uma investida mais forte sobre o Congresso. A operação de busca e apreensão na casa de alguns senadores, entre os quais o ex-presidente Fernando Collor, foi o primeiro sinal. Aguardam-se outros.

Fala-se que algo em torno de 50 parlamentares, entre os quais os presidente da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, estão próximos da degola. Dia 16 de agosto, está prevista nova manifestação de protesto contra o governo e a classe política em geral. Se se reeditar a de 15 de março – e tudo indica que se reeditará -, como pensar em arranjos de cúpula?

A convocação de novas eleições parece a melhor – talvez única – saída. Garante a participação popular, renova o ambiente político e retira do poder figuras enquadradas no Código Penal.






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