por Gaudêncio Torquato
Um véu de incerteza teima em cobrir o espírito nacional, adensando as
expectativas, aumentando as angústias e diminuindo a crença nas
instituições políticas e sociais. Em quase todos os aspectos da vida
nacional, impera a dúvida.
Não sabemos até onde irá essa Operação Lava Jato. Até quando o juiz
Sérgio Moro continuará a dar as cartas? Até quando o STF fechará o
imbróglio que envolve políticos? Ignoramos se as cartas do intrincado
jogo de poder serão repartidas entre grupos que defendem o governo e se
servirão para administrar as intempéries que assolam as roças da
política.
Não sabemos o tamanho da enrascada que consome Estados e municípios.
Estamos no início do caos, no meio da crise ou muito longe do fim do
túnel? Ninguém sabe, mas todos se aventuram a garantir verdades nesse
território que ama construir versões.
Ora, Dilma será afastada; ora, Lula movimentará seus exércitos para
defendê-la; ora, os tucanos dizem não querer impeachment; ora, dizem ser
a favor; ora, as contas do Governo serão desaprovadas pelo TCU e as
contas de campanha, idem, pelo TSE. Nada certo.
Nas ruas, nos escritórios, praças e bares, emerge o país lúdico que ri
da tragédia e se comove com a comédia. Comédia e tragédia, aqui, se
fundem num amálgama que, frequentemente, traduz a falta de racionalidade
do nosso povo tropical.
As redes sociais se locupletam com sátiras e piadas, algumas de extremo
mau gosto. Mas há também graça. A improvisação, o gosto pela aventura, a
alma criativa se expandem nesses tempos de recessão econômica.
A desconstrução de eixos administrativos montados por governos
anteriores passa a integrar o exercício dos governantes que iniciaram
sua jornada em janeiro deste ano. E assim cresce o Produto Nacional
Bruto do Eterno Retorno.
Os nossos homens públicos mais parecem dândis na escuridão. Não enxergam
o profundo caos em que está afundada a imensa maioria da população
brasileira.
Não são apenas as gritantes estatísticas de violência das metrópoles que
assustam. Os assassinatos e assaltos (até de roubo de bicicletas)
tornam-se eventos banais.
O desemprego ronda as famílias ( são mais de 8 milhões de desempregados) e deflagra ondas de medo, corroendo esperanças.
Os serviços públicos continuam a cair de qualidade. Morre-se de doença
velha – dengue, por exemplo- em um atestado de volta ao passado.
A tristeza se estampa nas filas de pessoas que procuram emprego. As
cenas do interior tórrido do Nordeste voltam com intensidade. Repete-se a
cosmética de miséria incrustada em nossas mentes.
Para onde foram os bilhões dos desvios da roubalheira?
Quem consegue enxergar melhorias nas áreas da saúde, educação, saneamento básico, transportes urbanos, segurança pública?
Em alguns Estados, a penúria se instala. Os governos procuram ajustar
suas contas. De 27, cerca de 20 estão perto do ajuste. Mas os cofres
continuam pobres.
Nas ruas, as massas ruminam desconfianças, afastam-se das instituições e
de seus representantes, afogam-se em mágoas, perdem-se em ilusões.
O Governo Federal deixou de ser a Tábua de Salvação para ser a Caixa de
Pandora, cheia de surpresas; dos bons tempos de farta Bolsa Família, só
lembranças. Da era do crédito fácil da era Lula, só velhos retratos.
A imagem da presidente Dilma afunda-se. Bate em 7% de aprovação.
Quando se espera que o governo defenda o rigor do pacote de ajustes,
reduz a meta fiscal. Joaquim Levy, o próprio, que defende rigor nas
contas, anuncia a desidratação de seu pacote com a redução da meta
fiscal para 0,15% do PIB com abate de R$ 26,4 bilhões na receita.
A propósito, conseguirá Levy fazer passar pelo congresso o projeto de
repatriação de recursos de brasileiros no exterior? De 500 bilhões,
conseguira trazer 40?
A nova matriz econômica começa de maneira capenga. Onde foram parar as
grandes obras do PAC? Caminham lentas. O PT gira tonto pelas ruas do
Planalto, sem saber que rumo tomar.
Descalabros emergem todos os dias, ganhando espaços midiáticos, a partir
das trombetas de Curitiba. O torto, o errado, o inusitado, o roubo, as
negociatas que fariam inveja a Tio Patinhas já não mais comovem. De tão
rotineiras, amortecem nosso espírito.
Sem perspectivas e sem crenças, o povo acaba banalizando a
criminalidade. Que se expande. Um estado catatônico se instaura. Matar
virou um ato de rotina. A morte é um evento que não mais comove.
A grandeza de uma Nação não é apenas a soma de suas riquezas materiais, o
produto nacional bruto. É o conjunto de seus valores, o sentimento de
pátria, a fé e a crença do povo, o sentido de família, o culto às
tradições e aos costumes, o respeito aos velhos, o amor às crianças, o
respeito às leis, a visão de liberdade, a chama cívica que faz correr
nas veias dos cidadãos o orgulho pela terra onde nasceram.
A anulação de alguns desses elementos espirituais faz das Nações uma terra selvagem. O país tateia na escuridão.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
0 comments:
Postar um comentário