editorial do Estadão
A condenação de três altos executivos da Camargo Corrêa por corrupção,
lavagem de dinheiro e organização criminosa, pela primeira vez no âmbito
da Operação Lava Jato; o indiciamento por corrupção, lavagem de
dinheiro, fraude e crime contra a ordem econômica de Marcelo Odebrecht,
presidente da maior construtora brasileira; a abertura de investigação,
pela Procuradoria da República no Distrito Federal (DF), de crime de
“tráfico de influência em transação comercial internacional” que teria
sido praticado pelo ex-presidente Lula em benefício da Odebrecht; a
disposição do Tribunal de Contas da União (TCU) de rejeitar, entre
outras manobras ilícitas, as “pedaladas” fiscais usadas em 2014 pelo
governo Dilma para disfarçar o rombo nas contas públicas – são, todas
essas, notícias importantes que sinalizam clara e auspiciosamente a
resposta positiva, aparentemente irreversível, ao clamor nacional pela
moralização da gestão pública.
Trata-se do bom combate pela erradicação, até o ponto em que isso é
humanamente possível, da prática epidêmica da corrupção que o falido
projeto de poder do PT deixa como um de seus legados.
Se os brasileiros têm motivos para comemorar o fim da impunidade dos
poderosos inaugurada pela Justiça Federal de Curitiba, mais razões têm
para esperar que o movimento moralizador que começou com o processo do
mensalão, no Supremo Tribunal Federal (STF), continue comprovando que os
políticos não estão acima e além da lei. De fato, político que delinque
é reles delinquente e é como tal que muitos deles, que têm o rabo preso
com ilicitudes, tremem ante o avanço das investigações da Lava Jato. Ou
assumem atitude temerária, em pleno desespero.
É sintomática desse comportamento comprometedor a maneira como alguns
notórios parlamentares tentam influenciar o processo de sucessão da
chefia da Procuradoria-Geral da República, que terá seu desfecho em
setembro. O atual procurador-geral, Rodrigo Janot, é candidato natural à
recondução ao cargo, até porque se encontra no meio de um complexo e
delicado trabalho de investigação e preparação dos inquéritos a serem
encaminhados ao STF e ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), no caso de
acusados com direito a foro especial, com os correspondentes pedidos de
indiciamento criminal.
De acordo com a praxe, os procuradores federais indicarão pelo voto a
lista tríplice de candidatos a ser apresentada à Presidência da
República. Dilma já deixou claro que, como tem feito até agora, nomeará o
mais votado, que dificilmente não será o próprio Janot. Mas a nomeação
precisa ser aprovada pelo Senado, e é aí que a situação se complica.
Principalmente depois que a Operação Lava Jato promoveu diligências nas
propriedades de três senadores, inclusive o notório proprietário de uma
coleção de carros de luxo importados, é voz corrente na Casa que a
provável indicação de Janot corre o risco de ser rejeitada em plenário.
Não é difícil de imaginar por quê.
O presidente do Senado, Renan Calheiros, e pelo menos mais uma dúzia de
senadores estão envolvidos na Lava Jato. Calheiros se diz convencido de
que a inclusão de seu nome na lista é obra de Janot, a serviço do
Planalto. Publicamente, repele a “intervenção indevida” dos
investigadores no Congresso, que classifica como “atentado” à autonomia e
independência dos Poderes da República. Boa parte dos senadores
concorda com Calheiros, daí o risco que correria uma eventual
candidatura de Janot. É a lamentável constatação de que, na contramão do
clamor das ruas e das recentes decisões dos tribunais, há senadores que
ainda se sentem acima da lei e protegidos pelo manto da impunidade que
historicamente vinha mantendo os poderosos da República fora do alcance
da Justiça.
Há, no Legislativo, quem deva e quem tema. E não será se refugiando na
hipócrita postura de críticos e adversários do governo mais impopular da
história recente que essas figuras lograrão livrar-se daquilo que
temem, se o curso da Justiça provar que de fato devem. Os empresários
presos em Curitiba que o digam.
extraídaderota2014blogspot
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