por Reinaldo Azevedo FOLHA DE SÃO PAULO
O "petrolão" já tem uma derivação: o "eletrolão". Com mais algumas
enxadadas, novas minhocas podem brotar. Quem sabe o "estradão", "meu
casão meu vidão", "saudão", "escolão", "pacão"... E quantos outros
aumentativos vocês queiram rimar aí para indicar um estado que foi
literalmente assaltado pelo crime e que não tem solução.
O governo desapareceu. Dilma se alimenta de algumas esperanças que,
embora plausíveis, têm pouco efeito prático para ela. Pensemos em
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. A sua situação vai, por
desdobramento óbvio, se agravar –afinal, é certo que será denunciado por
Rodrigo Janot.
Digamos, só por hipótese, que Cunha saísse de cena. Dilma ficaria
rigorosamente onde está. Seu discurso dialoga cada vez mais com os
rinocerontes que batem à porta. A mais recente contribuição da
presidente, todos vimos, foi anunciar que, tão logo cumpra no ProUni a
meta que faz questão de não ter, pretende dobrá-la.
Fez tal raciocínio especioso uma vez. Achou pouco. Repetiu-o. A claque aplaudiu.
Em todas as outras crises, antes ou depois de 1964, sempre houve ao
menos com quem conversar. Quando a conversa falhou... Conversar sobre o
quê? Não precisa ser sobre um arranjo de compadres, táticas ou
estratégias para conter as investigações ou conchavos, conluios e
conspiratas. Há, é evidente, um núcleo de interesses que não diz
respeito ao governo ou à oposição, mas ao país. Até Lula, apesar dos
discursos rombudos, mantinha interlocutores.
Desta feita, não há ninguém, o que decorre também das escolhas feitas
pela presidente para cuidar da política. O vice, Michel Temer,
reconheça-se, até que tenta esfriar a crise com falas moderadas,
ensaiando a constituição de um núcleo de governabilidade no Congresso,
mas a realidade insiste em atropelá-lo. Eis aí o "eletrolão" tomando
vulto, com todos os elementos necessários para causar um curto-circuito
também no PMDB.
Até João Santana, competentíssimo na sua área, mostra que se deixou
contaminar pelo clima de bunker sitiado. O ator que vai conduzir o
programa do partido na TV, no dia 6, é uma espécie de "hater"
profissional, que sempre escolheu com os críticos do governo, nos
embates nas redes sociais, as armas da agressão verbal e da
desqualificação. Na prática, Dilma e o PT vão convocar o megaprotesto do
dia 16.
Esse costuma ser o fim de governos em crise. Mas estamos apenas no
começo. É o colapso do petismo. Não sobrou ninguém nem para acender a
luz.
Há um erro lógico irrecuperável no raciocínio de Bernardo Mello Franco, nesta Folha,
ao afirmar que a prisão do vice-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva,
presidente da Eletronuclear, "serve de alerta" para os que defendem "a
volta dos militares". Não serve. Se servisse, seria o contrário:
lembraria como são poucos os militares envolvidos em lambança. Se um
militar eventualmente corrupto conspurca a categoria, as centenas de
civis flagrados com a boca da botija provariam a inviabilidade da
democracia. Aí só restaria a ditadura dos bons, a tal "Politeia"
platônica... A propósito: alguém relevante defende a volta do governo
fardado? A ditadura não é ruim porque militar ou civil. Tampouco se deve
indagar se ela funciona (China) ou não (Cuba). Devemos repudiá-la por
imperativo ético. Aí a gente pode viajar no Platão que vale a pena.
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