editorial do Estadão
A Procuradoria da República do Distrito Federal (DF) está investigando o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo crime de “tráfico de
influência em transação comercial internacional”. Lula teria intercedido
pessoalmente em benefício da construtora Odebrecht, a partir de 2011,
junto aos governos de Portugal e de Cuba, países nos quais esteve em
viagens patrocinadas pela empresa, de acordo com documentos oficiais
obtidos no Itamaraty pelo jornal O Globo. A investigação dos
procuradores do DF é a primeira ação oficial a levantar uma ponta do véu
que encobre a notória ligação de Lula com empreiteiros poderosos,
principalmente contratantes de obras públicas, envolvidos até o pescoço
no escândalo da Petrobrás.
A revelação do jornal carioca não chega a ser surpreendente porque entre
os amigos do peito de Lula nos altos escalões empresariais está
exatamente Marcelo Odebrecht, presidente da maior construtora do País,
preso em Curitiba pela Operação Lava Jato. Lula não esconde que depois
de deixar a Presidência da República tem proferido palestras pagas no
exterior a convite de grandes empresas brasileiras com interesses no
mercado internacional. Nega peremptoriamente, porém, que faça lobby em
benefício dessas corporações. Admite, no máximo, que aproveita essas
oportunidades para divulgar e defender os “interesses comerciais do
Brasil” no exterior.
Afirmam os áulicos do ex-presidente que, se eventualmente se dispusesse,
em nome dos interesses nacionais, a fazer lobby para grandes
construtoras brasileiras, Lula estaria apenas seguindo o exemplo de
ex-chefes de governo americanos. Ocorre que há uma grande diferença
entre o que fazem os lobistas nos EUA e no Brasil. Lá o lobby é
legalmente reconhecido e regulamentado como atividade para promover
interesses corporativos legítimos. Aqui é uma atividade informal, quase
sempre sub-reptícia, que não raro se confunde com a advocacia
administrativa. O lobby, no Brasil, frequentemente é entendido como uma
chave usada para abrir portas que a burocracia fecha para disso ter
algum proveito. Isso não significa que todo lobista seja desonesto.
Existem, como em tudo, as exceções.
Essa diferença de entendimento do que seja o lobby é o que explica o
fato de Bill Clinton praticar lobby abertamente para as corporações que o
contratam, enquanto Lula nega categoricamente fazer a mesma coisa. Além
disso, nos EUA um ex-presidente se afasta da militância
político-partidária e fica legalmente impedido de voltar a se candidatar
a qualquer cargo eletivo. Aqui, Lula só pensa em 2018.
Lula aprendeu, enquanto trabalhava no Palácio do Planalto, a cultivar a
amizade de muitos prósperos empresários. Era então voz corrente em
palácio que apenas duas pessoas tinham acesso irrestrito a seu gabinete:
a primeira-dama, Marisa Letícia, e o pecuarista José Carlos Bumlai, a
quem é atribuída, entre outras, a proeza de ter viabilizado a promoção
da então desconhecida construtora UTC, de Ricardo Pessoa, à condição de
uma das grandes empreiteiras de obras públicas do País. Pessoa é o
ex-presidente da UTC, delator premiado da Lava Jato, que acaba de
entregar o deputado Eduardo Cunha como beneficiário de US$ 10 milhões de
propina paga pela BR Distribuidora.
Consta ainda da lista de melhores amigos de Lula outro frequentador da
carceragem da PF em Curitiba: Leo Pinheiro, da construtora OAS, que
generosamente concluiu as obras tanto do magnífico tríplex do
ex-presidente num edifício no Guarujá como do sítio familiar em Atibaia.
E ainda Otávio Marques de Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez, que
acaba de ser indiciado pela PF em um dos inquéritos da Lava Jato.
Diante das clamorosas evidências de que por detrás de relações estreitas
com poderosos empreiteiros há muito mais do que Lula se permite admitir
– afinal, desde que deixou a Presidência ele vive para baixo e para
cima no Brasil e no mundo a bordo de jatos executivos, hospedando-se em
hotéis de luxo, sempre às expensas dos financiadores de seu Instituto –,
as revelações contidas em documentos diplomáticos que o Itamaraty foi
obrigado a divulgar por força da Lei de Acesso à Informação
constituem-se certamente num primeiro passo para que, mais cedo ou mais
tarde, venha à luz toda a verdade sobre a prodigiosa transformação de
Lula e sua família em beneficiários privilegiados dos programas de
ascensão social dos governos do PT.
extraídaderota2014blogspot
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