Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 30 de julho de 2015

A nação espera que a oposição oficial assimile a lição de FHC

Valentina de Botas:

A FHC só restava ser ele mesmo, como ao jeca só restou ser o lula que é. Lula se negou a apoiar Tancredo Neves no Colégio Eleitoral; deputado constituinte, comandou o PT no voto contra a Constituição “burguesa” de 1988, o registro – prolixo e imperfeito, mas legítima expressão da sociedade brasileira quanto ao que ela queria ser quando crescesse – do renascimento de uma nação depois de parto tão difícil, da ressuscitação da democracia que ainda não havia passado da primeira infância em 100 anos de república; desdenhou do apoio de Covas contra Collor.

Vinte anos depois, fez um mea culpa quanto à Constituição reconhecendo que ela ensejou a eleição dele: eis aí, ele, outra vez ele, outra vez os desejos dele com as perversões intrínsecas. É patológico. Cego para os interesses do país e por índole, pela deformação do peleguismo do sindicalismo ou tudo somado, prefere acertos sorrateiros, fora dos espaços e limites institucionais.
Jamais reconhece interlocutores onde não vê comparsas porque só enxerga o projeto de si mesmo. O protagonismo máximo que os interesses do país alcançam nesta fábula primitiva é como plataforma do projeto que significou o revés do parto da nação moderna em que já poderíamos ter nos transformado se as reformas da era FHC tivessem sido aperfeiçoadas e outras iniciadas. Mas aí veio o lulopetismo arcaizante fazendo nosso futuro retroceder.
Como o Brasil real é mais intrigante do que qualquer Macondo fictícia, os portais críticos que logo cruzaremos talvez sejam uma oportunidade de restabelecermos o futuro, fazermos da política nacional menos policial e estupidamente ideológica, enfim, levar para tomar sol nosso sonho de um país civilizado. Esse horizonte fica mais próximo com a resposta de FHC ao assédio cafajeste da súcia que buscava uma sobrevida à custa do prolongamento da nossa agonia.
Quando olha para FHC, o jeca não vê uma reserva moral da nação no interlocutor que nunca reconheceu e cuja trajetória atacou de todas as formas no inconformismo secretamente nítido de jamais poder vivê-la, vislumbra apenas a chance última de exercer o oportunismo de salvação não do país, mas outra vez do mesmo projeto canalha, do que não tem conserto nem nunca terá. Claro que FHC não está se vingando das infâmias que apequenaram só o homenzinho bisonho que nunca foi grande; ele simplesmente respondeu ao jeca com o que este desconhece: a estatura moral de uma biografia compatível com um país decente do qual a de Lula é antagonista.
Resistindo com naturalidade de estadista ao assédio desesperado de um caudilho ridículo que adivinha o camburão chegando e já escuta a sétima trombeta que ribombará em 16 de agosto, FHC foi leal não somente à própria biografia, mas ao país que é inseparável dela. A nação exaurida que quer se reerguer, ter a si mesma como assunto e projeto, espera que a lição de lealdade e coerência dele seja assimilada pela oposição oficial. Não merecemos menos do que isso.







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