Jornalista Andrade Junior

sábado, 25 de julho de 2015

O Brasil, definitivamente, não é para amadores

Por  Rodrigo Constantino

Esqueçam House of Cards! Ou: O Brasil, definitivamente, não é para amadoresA vida imita a arte ou seria o contrário, a arte imita a vida? Não sei ao certo. Só sei que quem busca emoção em seriados da Netflix já pode economizar o suado dinheiro (até porque a inflação da Dilma não está brincadeira): basta, agora, acompanhar o noticiário político brasileiro. Tem mais emoção. Tem atores melhores até do que Kevin Spacey. Tem muita intriga, jogo sujo de bastidores, lobistas poderosos para todo lado, ex-presidentes sendo investigados por corrupção e tráfico de influência, carrões milionários, etc. O que mais o público precisa para se divertir? Claro, não é tão divertido assim quando lembramos que são essas pessoas que o povo brasileiro escolheu para representá-lo. Atenuante: as alternativas são muito ruins, num sistema dominado por esses partidos e caciques. Mas, convenhamos: não dá também para aliviar totalmente a parcela de responsabilidade do estimado público. Vota mal mesmo. Talvez, numa teoria conspiratória que não pesquei antes, o eleitor seja mais esperto do que eu e ache interessante ver o circo pegar fogo. Vota nessa gente para ter acesso a esse espetáculo depois. Será possível?
Acho que exagerei, viajei na maionese. Mas, enfim: o fato é que os eleitores colocaram essa turma da pesada no poder, e agora a turma resolveu brigar entre si como nunca antes na história deste país. Não acho isso necessariamente ruim. Quando as máfias disputam poder, há caos, mortos e feridos, mas também mais transparência trazendo à tona a podridão dos bastidores do mundo do crime. Peguem a pipoca e liguem a TV…
Eduardo Cunha teria recebido US$ 5 milhões em propina, diz o delator. O Procurador-Geral, Rodrigo Janot, teria forçado o delator a mentir, diz Cunha. São acusações gravíssimas para todo lado. Quem tem razão? Quem fala a verdade? Alguém fala a verdade? Lula, o ex-presidente mais popular da história, é investigado oficialmente por tráfico de influência, ou seja, seria um lobista, como seu ex-braço-direito José Dirceu. Collor fica com olhos vidrados ao ver seus carrões expostos na mídia. Dilma cambaleando, sem apoio, terá que enfrentar um PMDB ainda mais hostil agora, e um presidente da Câmara irritado, que já era desafeto antes, que já representava uma pedra em seu sapato bolivariano antes.
Como vai acabar isso tudo? Quem diz que sabe, mente. O desfecho é imprevisível, e a história não está contada. Não há fatalismo aqui. O que o país fará desse enredo todo ninguém sabe ainda. Pode extrair dele os instrumentos para um importante avanço institucional, colocando em cana tubarões importantes da política, desinfetando um pouco a cena; ou pode acabar mal, numa grande pizza, num enorme acordo entre as partes: já que muitos devem no cartório, então fecha logo o cartório!
Claro, há outro participante de comportamento imprevisível na novela: o povo. Se, depois de tudo que já emergiu do pântano, a coisa não der em nada, frustrando as expectativas dos telespectadores, se o final for uma farsa que produza um anticlímax total naqueles que acompanham cada capítulo com ansiedade, a revolta poderá ser grande e a turba, ensandecida, poderá sair do controle. O gigante, enfim, poderá finalmente acordar, e se isso acontecer teremos até mesmo uma revolução no país, algo impensável antes, já que o público é sempre associado ao pacato cidadão, que leva ferro o ano inteiro, mas relaxa e goza com o carnaval e o futebol.
De minha parte, assisto a tudo de camarote, com um misto de preocupação e esperança. Acho positivo esse escândalo todo vazar, as instituições democráticas fazerem seu trabalho com alguma independência, os poderosos políticos serem expostos e ficarem na defensiva, a imprensa ainda ter liberdade para trabalhar. Mas, por outro lado, tenho receio da reação tanto do andar de cima como da turba. Não está claro se sairemos disso tudo com instituições republicanas fortalecidas ou com algum tipo de retrocesso qualquer.
E, em meio a essa confusão política, ainda temos a questão econômica. O país vive uma das crises mais severas das últimas décadas, a atividade deve cair 2% esse ano, a inflação deve passar de 9%, o desemprego vai aumentar, e o país necessita de um ajuste fiscal bem mais rigoroso do que esse em curso, e ameaçado pela própria confusão política. Ou seja, a crise econômica pode se agravar bastante ainda. O clima perfeito para aventureiros de plantão, para “soluções mágicas”, para revoluções que nunca acabam bem.
Qual será então o desfecho dessa ópera bufa à brasileira? Quem viver, verá.
Rodrigo Constantino





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