por Dora Kramer O Estado de São Paulo
O PSDB decidiu aderir oficialmente às manifestações de rua contra o
governo Dilma Rousseff anunciando que ajudará na convocação dos
“cidadãos indignados” a participarem dos protestos marcados para 16 de
agosto próximo.
O partido sentou no banco do carona desse bonde da História, mas o fez
propositadamente com leveza. Ao mesmo tempo em que promete empenho no
apoio, o senador Aécio Neves, presidente do PSDB, diz que ainda não
resolveu se estará presente a algum dos atos. E, se for, avisa, irá
“como cidadão”.
Claro, a gente entende. Aparece Aécio Neves no meio de uma manifestação
em São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte e a ninguém ocorrerá
associá-lo ao partido nem ao fato de presidi-lo. Os tucanos pretendem
ainda que as pessoas enxerguem o PSDB como “segmento da sociedade”.
Não obstante a inutilidade do sofisma do ponto de vista prático, a
prudência faz sentido, pois os tucanos estarão com esse gesto fazendo o
teste da rua. Podem se sair bem ou se dar muito mal. Via das dúvidas,
eles abrem alas e pedem passagem quase à francesa.
Até então nenhum dos partidos de oposição havia se incorporado aos
movimentos, até por receio de rejeição, dada a indisposição com os
políticos em geral. Ninguém quer correr o risco de ser rechaçado e virar
sócio do governo na vidraça nem ser apontado como oportunista. Daí ser
necessário balizar o senso de oportunidade.
Inclusive para não deixar passar a hora de entrar. O êxito das
manifestações independe da participação do PSDB ou de qualquer outro
partido. As pessoas que até agora foram aos protestos não precisaram de
convocações partidárias. Estas poderão incentivar alguns, desestimular
outros ou soar indiferentes para a maioria.
Não parece ser o produto numérico o que interessa aos tucanos e sim o
resultado político a ser obtido. Nessa altura, se o partido fica de fora
estará se distanciando de uma movimentação social que coincide com seus
interesses: o desgaste do governo ao qual faz oposição. Portanto, com
essa adesão o PSDB quer se associar a essa parcela da população, hoje ao
que indicam as pesquisas, majoritária.
Houve tempo em que, minoritária, mesmo os mais ferrenhos oposicionistas
preferiam relativizar suas posições. Por exemplo, evitando críticas a
Luiz Inácio da Silva, concedendo-lhe mesmo a condição de inatacável, por
vezes digno de alianças eleitorais acima dos interesses partidários
nacionais.
O cenário mudou, o partido acompanhou. A favor do PSDB, o fato de ter
“puxado” o cordão, o que lhe garante o lugar de liderança. Numa situação
que vale a pena comparar com duas outras em que a manifestação da
sociedade teve papel definitivo em episódios políticos.
Sem pretensão alguma de buscar semelhanças em relação aos desfechos,
vamos a elas. Primeiro, por ocasião das manifestações em favor das
eleições “Diretas-Já”. A iniciativa surgiu no Parlamento a partir de uma
emenda constitucional do deputado Dante de Oliveira, em 1983.
Em torno de sua aprovação, lideranças do PMDB (na época um partido bem
diferente) organizaram comícios que viriam a reunir milhões de pessoas
em torno de uma ideia-força que era o fim da ditadura.
Quase dez anos depois, a partir de uma iniciativa do Parlamento (CPI do
PC Farias) o então presidente Fernando Collor convocaria a população a
defendê-lo nas ruas e daria, involuntariamente, início ao movimento dos
caras-pintadas.
Os protestos da atualidade que se iniciaram em 2013, são os primeiros a
ocorrer por livre e espontânea manifestação daquele ente de quem,
segundo a Constituição, emana todo poder.
extraídaderota2014blogspot
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