Carlos Newton
De repente, não mais do que de repente, a brilhante criminalista Beatriz Catta Preta, considerada a maior especialista do país em delação premiada, renuncia à defesa de quatro réus da operação Lava Jato. Primeiro, afastou-se do caso de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras. E agora também renuncia aos processos de outros três delatores: Pedro Barusco, ex-gerente de Engenharia da Petrobras, e dois lobistas, Augusto Ribeiro de Mendonça e Julio Camargo.
Advogado renunciar à defesa de cliente milionário não é nada comum, convenhamos, sempre despertará especulações. No caso de Catta Preta, pode-se equivocadamente atribuir a decisão ao fato de que, no início de julho, a advogada recebeu convocação para depor na CPI da Petrobras, por haver parlamentares interessados em indagar dela sobre a origem de seus honorários. Mas é uma justificativa sem fundamento, conforme já explicou aqui na Tribuna da Internet o jurista Jorge Béja. A convocação foi grotesca, ridícula e despropositada, como disse Béja, mas nem precisava ser cumprida. Em último caso, bastava que Catta Preta alegasse o direito de ficar em silêncio.
Quando abandonou a defesa da Paulo Roberto Costa, a criminalista alegou que sua missão já havia sido cumprida e que não acompanharia as ações penais, que desde o início da investigação têm ficado a cargo do advogado João Mestieri, um dos mais conhecidos do Rio de Janeiro. Mas não deu justificativas ao renunciar à defesa dos outros três clientes.
E O CASO DE CAMARGO?
O que mais chama atenção, por óbvio, é o caso do lobista Julio Camargo. Na semana passada, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato, ele revelou ter sofrido pressão do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para pagar propina de US$ 5 milhões. O valor seria referente a dois contratos de R$ 4 bilhões da estatal para a contratação de navios-sonda. Camargo disse também ter sido ameaçado, foi um depoimento muito negativo para Cunha, que atribuiu tudo a seu arquiinimigo Rodrigo Janot, procurador-geral da República.
Como somente agora Camargo lembrou desses importantes fatos, e poucos dias depois a advogada Catta Preta renuncia à defesa dele, que não pode mentir na delação premiada, é claro que Eduardo Cunha deve aproveitar esses fatos para alegar que Camargo está falseando o depoimento. Essa nova denúncia de Camargo, na chamada undécima hora, quando sua advogada já até considerava concluída a fase de delação premiada, sem dúvida é muito esquisita, para se dizer o mínimo.
A verdade, só os dois, Camargo e Cunha, de fato conhecem. De toda forma, é interessante e instigante discutir essa situação, porque Cunha é hoje o senhor do impeachment. Tudo o que acontecer de negativo a ele beneficia a presidente Dilma Rousseff e dificulta a abertura do processo de impeachment. Esta semana foi encaminhado à Mesa da Câmara o 12º pedido, outros virão.
De tudo isso, resta dizer, com a máxima vênia, que o mais lamentável é que a operação Lava Jato perdeu sua musa.
EXTRAÍDADETRIBUNADAINTERNET
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