editorial do Estadão
Com a decisão do governo da Itália de extraditar Henrique Pizzolato para
o Brasil, chega-se ao fim do processo do mensalão. Quase dez anos
depois de deflagrado, o escândalo que abalou o governo de Luiz Inácio
Lula da Silva colocou vários líderes do PT e de outros partidos na
cadeia e marcou uma virada na percepção dos brasileiros de que os
poderosos sempre se dão bem. No entanto, faltava pôr atrás das grades o
condenado que, se não tem uma biografia comparável à dos "guerreiros do
povo brasileiro", como foram classificados por seus correligionários os
potentados petistas encarcerados, é um dos que melhor simbolizam o
aparelhamento do Estado com vista a depená-lo, na tentativa de permitir
que o PT se perpetuasse no poder.
Pizzolato foi condenado em 2013 a 12 anos e 7 meses de prisão por ter
autorizado, na condição de diretor de marketing do Banco do Brasil, um
repasse de R$ 73,8 milhões que o banco mantinha no Fundo Visanet para
uma das empresas de Marcos Valério de Souza, operador do mensalão,
recebendo em troca uma recompensa de R$ 336 mil.
Essa operação é central para entender o esquema que resultou no
pagamento de propina a políticos e partidos da base governista. Segundo a
reconstituição feita pela Polícia Federal e o Ministério Público -
plenamente aceita pelo Supremo Tribunal Federal -, o dinheiro que saiu
do Fundo Visanet e entrou no chamado "valerioduto" era público. O Banco
do Brasil, como detentor de 32% do fundo, determinou um repasse de R$
73,8 milhões à agência de propaganda de Valério sem que esta tenha
prestado nenhum serviço à marca de cartões do banco.
Pizzolato agiu, portanto, como peça central do esquema. No entanto, à
parte seu papel na transferência ilegal de dinheiro público para o
mensalão, sua real importância está no fato de que ele só ocupava uma
das mais estratégicas diretorias do principal banco estatal brasileiro
porque tinha uma missão partidária a cumprir.
Petista, ex-presidente da CUT no Paraná, Pizzolato integrou a leva de
diretores e vice-presidentes do Banco do Brasil escolhidos por Lula logo
no início de seu primeiro mandato, em 2003, com base em um único
critério - fidelidade ao PT. O aparelhamento era essencial, como se
veria pouco tempo depois, para que os mecanismos administrativos que
poderiam impedir o mensalão fossem substituídos pela "total balbúrdia",
na feliz expressão usada pelo ministro Ricardo Lewandowski, no
julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal, para qualificar o
modo como Pizzolato gerenciava sua área. Antes de ser prova de
incompetência, a "balbúrdia" era a essência de uma estratégia, pois
facilitava o zigue-zague de dinheiro que elidia os controles
institucionais.
Uma vez descoberto o esquema, manda o manual do petista moderno dizer-se
vítima de tribunais de exceção e até mesmo fugir para "salvar a vida",
como Pizzolato chegou a alegar quando já estava na Itália, para onde foi
graças a um plano urdido desde 2007, quando as primeiras acusações
formais contra ele foram feitas. Ele usou a identidade de um irmão morto
para falsificar todos os documentos necessários para a operação.
Pizzolato agravou, assim, os crimes que já cometera.
Ao tomar a decisão de extraditar Pizzolato para o Brasil, a Itália
considerou que o petista não tinha vínculos reais com o país, usando sua
dupla cidadania apenas como "escudo" para evitar a Justiça brasileira.
Mais que tudo, segundo informou a Advocacia-Geral da União, pesou o fato
de que Pizzolato foi condenado por crime de corrupção.
O desfecho do caso, de si suficientemente vergonhoso, representou um
constrangimento adicional para o Brasil. Ao decidir extraditar um
cidadão italiano condenado em outro país, a Itália deu um exemplo de
como a Justiça deve prevalecer sobre a política ou a ideologia. Já no
Brasil de Lula, um "ativista" de esquerda como o italiano Cesare
Battisti - na verdade, um terrorista - pode dormir tranquilo. Ele foi
condenado à prisão perpétua pela Justiça da Itália por assassinato, mas
ganhou refúgio no Brasil graças a um "fundado temor de perseguição",
malgrado a Itália ser uma democracia plena. Aqui, amigos poderosos
falaram mais alto que a decência.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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